sexta-feira, 18 de maio de 2007

SESSÃO "À CONVERSA COM...VALTER HUGO MÃE" NA LIVRARIA ENTRELINHAS EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (12.05.2007)

 


Valter Hugo Mãe com Cristina Marques na Livraria
Entrelinhas em São João da Madeira (11.05.2007)

VALTER HUGO MÃE EM SÃO JOÃO DA MADEIRA

Eu conheci pessoalmente Valter Hugo Mãe há três anos atrás e não sabia que ele era escritor e poeta. Foi numa sexta-feira, dia 11 de Junho de 2004, quando fui de propósito a Vila Nova de Famalicão para ter uma reunião com o editor Jorge Reis-Sá das Edições Quasi - a primeira editora que contactei para ler, analisar e, se possível, editar o meu primeiro livro "Ecos Mudos" (coisa que acabou por não acontecer), que estava marcada para as 14H30. E quem é que me foi buscar à estação de comboios para me levar para a sede da Quasi? O Valter! Muito simpático mas de poucas palavras. Ouviu-me com muita atenção a respeito do meu primeiro projecto literário, mostrou-se muito interessado com a minha primeira obra. Depois desse dia, nunca mais o vi nem ouvi falar dele até o dono da livraria entrelinhas, Ricardo Almeida falar dele, mas, até à sessão de ontem, confesso que não associei o nome deste escritor com o homem que me levou de ida e volta da estação de comboios de Vila Nova de Famalicão até à sede da Quasi com o escritor e poeta que fora entrevistado e homenageado na livraria do Ricardo e da Filomena.

A sessão "À Conversa com...Valter Hugo Mãe" ficou marcada para as 21H30, mas eu cheguei uns dez minutos mais tarde. A sala onde ocorrera a sessão estava cheia (ou "à cunha" como se costuma dizer). Ao lado do escritor e poeta natural de Vila de Conde, estava a professor Cristina Marques - que conheci pessoalmente em Fevereiro, na sessão de apresentação do novo romance de José Luís Peixoto "Cemitéro de Pianos", nessa mesma livraria, como acabei de mencionar num post deste blog mais atrás. Valter Hugo Mãe revelou nessa sessão uma aparência tímida, suave, escondida num rosto discreto e tranquilo, mas não teve o menor pudor em aparecer completamente nu na capa do seu livro "Pornografia Erudita". "Sou muito tímido, mas tenho muita lata", confessou. E logo a seguir disse uma frase que revelou como incorpora a incoerência e o paradoxo como linhas delineadoras da sua identidade: "Se eu pudesse, gostava de ser outra pessoa".

Talvez por sentir uma necessidade constante em "iludir os outros" e de "procurar o lugar do outro", escreveu o seu mais recente livro de Poesia, "Pudorgrafia Erudita" (Cosmorama, 2007). Apesar de esta ser, segundo o escritor e poeta vilacondense, a sua 11.ª obra, Valter Hugo Mãe confessou que os seus cinco primeiros trabalhos foram "muito maus".

Tal como uma criança vivia iludido a cavar buracos na terra e a encher água para que dali nascessem peixes, Valter Hugo Mãe cava poemas numa busca incessante dos vários eus que o definem e moldam. Contrói possibilidades infindas nos conteúdos e até na forma linguística, questionando sempre, ainda que sem pretender, encontrar uma resposta. São os "caminhos ilusórios" que procura, enquanto se passeia, sem sair do mesmo local onde vive há muitos anos: Vila do Conde. Porém, neste versos mais maduros, o poeta já não pergunta: "Agora respondo a mim próprio" (sic).

Folheando o seu último livro de Poesia, Valter Hugo Mãe destila sarcasmo e ironia ao recitar "Margarida faz esborre" 

"O senhor monstro quer sentar-se
mas tem entre as pernas
a margarida que lhe entrou pelo cu"

A voz macia, ensaboada de malícia sai-lhe da boca e dispara subitamente contra a protagonista da trama. Dirige o poema a uma pessoa em particular e só não o assume verdadeiramente, com receio de mais um processo em tribunal, confessa entre risos. Mas a cumplicidade com o público é desarmante e Valter Hugo Mãe acaba por revelar: "É a Margarida Rebelo Pinto", enquanto recorda a polémica que resultou da publicação do livro "Couves & Alforrecas, Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto", que analisa de forma muito crítica a obra da autora de "Sei Lá".

Impaciente por natureza, mudou completamente de estilo quando resolveu começar a escrever prosa e viu editados os seus dois primeiros romances: "O Nosso Reino" (Quid Novi, 2005) e "O Remorso de Baltazar Serapião" (Quid Novi, 2006). Segundo a professora Cristina Marques, encontramos nas páginas do primeiro uma escrita violenta e agressiva, a roçar o pornográfico: "Mata a mãe, metendo-lhe a mão pela vagina e arranca-lhe tudo", segundo uma passagem lida pela professora sanjoanense.

Segundo Valter Hugo Mãe, a ficção apareceu-lhe na sua vida literária sem o avisar, fruto do acaso e de uma necessidade mais intrínseca de libertação: "No frenesim de ter que escrever uma tese de mestrado de 50 páginas em 15 dias, peguei numa frase que tinha no desktop do computador - "Era o homem mais triste do mundo" - e, em vez de escrever um romance", explicou.

Sem abandonar a Poesia, experimentou este outro género literário, numa tentativa de superação de si próprio: "A Arte é insatisfação", afirmou. E partiu à procura de novos desafios, porque há tinha descoberto a receita de fabricar versos bem sucedidos "Se quisesse podia estar sempre a parir poemas, por isso, tinha de me zerar", confessou.

Segundo a professora Cristina Marques, Valter Hugo Mãe abriu um novo caminho na Literatura Portuguesa devido à forma como trabalha com o grotesco na realidade, recusando a "semântica fossilizada", salientou a professora de Português e amiga do escritor que fez a apresentação da obra e do autor. De acordo com a especialista em Literatura, "a morte, o eu nos outros e os outros no eu e a poesia como libertação são as três pedras basilares" dos seus trabalhos.

Segundo o que eu apurei nessa sessão, Valter Hugo Mãe é licenciado em Direito, dirige, neste momento a editora Objecto Cardíaco e vive em Caxinas, Vila do Conde, deliciando-se com "as coisas simples da vida", confessou. Tem 11 obras poéticas e duas incursões na ficção, para além de ter escrito a letra para a música de Paulo Prata que passa na série "Floribella" na SIC.

No final da sessão, cumprimentei e revelei-lhe que era o escritor e poeta que ele conhecera em 2004 em Vila Nova de Famalicão. Para surpresa minha, reconheceu-me.

TIAGO MOITA

(P.S: Parte deste texto foi retirado da crónica que a jornalista Salomé Pinto fez para o Jornal Sanjoanense "Labor")

sexta-feira, 11 de maio de 2007

ARTE EM MOVIMENTO (FERNANDO VELOSO)



FERNANDO VELOSO

PORT-FOLIOS (PETER BERGHMAN)



Peter Berghman

MÃO MORTA APRESENTAM "CANTOS DE MALDOROR"




OS CANTOS DE MALDOROR – O LIVRO

Na Paris sitiada de 1870 e em vésperas do levantamento da Comuna morre aos 24 anos o desconhecido Isidore Ducasse. No entanto este misterioso “homem de letras” deixava atrás de si um formidável empreendimento de demolição de que o romantismo envelhecido e o Segundo Império à beira do desastre não seriam as únicas vítimas. Os seus “Os Cantos de Maldoror”, impressos no ano anterior sob o pseudónimo de O Conde de Lautréamont, não poupam nenhuma autoridade nem nenhum dogma.
Sob a aparência de um herói do Mal, negativo dos heróis românticos então em voga, Maldoror é a personagem central da narrativa estruturada em Cantos à maneira das epopeias clássicas. Mas Maldoror é muito mais que um herói do Mal, é sobretudo um combatente da liberdade que nos revela as consequências de uma dupla alienação: enquanto a interiorização dos interditos morais e religiosos nos confisca os desejos, as marcas de uma linguagem imobilizada contrariam-nos a livre expressão.
Se a primeira alienação ganha denúncia no combate encarniçado de Maldoror contra o Criador e a religião e na natureza obsessivamente erótica dos seus crimes, relembrando a animalidade e a agressividade que a Igreja associa à sexualidade, já a segunda é exposta pela recorrência a artifícios literários, da interpelação do leitor à confusão entre narrador e personagem, da ausência de linearidade narrativa à constante sobreposição de formas literárias, como se ao combate encarniçado contra o Criador correspondesse estranhamente uma luta da escrita contra uma censura latente. Apesar disso, o texto não perde balanço, antes, como uma espiral ou um turbilhão, ganha um movimento rodopiante, de reposição e de renovação, de repetição e de modulação, com novos enredos sempre a arrancarem para logo abortarem, com constantes intromissões e divagações a impedirem a narração de avançar, não abordando novos relatos senão para voltar a tropeçar no mesmo episódio indizível, deixando entrever o que se segue para melhor o ocultar, tal um segredo que se quer contar mas não se consegue, criando assim uma tensão que vai alimentar toda a obra, que dá a impressão de gravitar à volta de um centro sempre fugidio.

MALDOROR – O ESPECTÁCULO

A partir de “Os Cantos de Maldoror”, a obra-prima literária que Isidore Ducasse, sob o pseudónimo de Conde de Lautréamont, deu à estampa nos finais do séc. XIX, os Mão Morta, com os dedos de alguns cúmplices, estruturaram um espectáculo singular onde a música brinca com o teatro, o vídeo e a declamação.

Aí se sucedem as vozes do herói Maldoror e do narrador Lautréamont, algumas imagens privilegiadas das muitas que povoam o livro, sem necessidade de um epílogo ou de uma linearidade narrativa, ao ritmo da fantasia infantil – o palco é o quarto de brinquedos, o espaço onde a criança brinca, onde cria e encarna personagens e histórias dando livre curso à imaginação.·Em similitude com a técnica narrativa presente nos Cantos, a criança mistura em si as vozes de autor, narrador e personagem, criando, interpretando e fazendo interpretar aos brinquedos/artefactos que manipula as visões e as histórias retiradas das páginas de Isidore Ducasse, dando-lhes tridimensionalidade e visibilidade plástica. O espectáculo é constituído pelo conjunto desses quadros/excertos, que se sucedem como canções mas encadeados uns nos outros, recorrendo à manipulação vídeo e à representação.·Como um mergulho no mundo terrível de Maldoror, povoado de caudas de peixe voadoras, de polvos alados, de homens com cabeça de pelicano, de cisnes carregando bigornas, de acoplamentos horrorosos, de naufrágios, de violações, de combates sem tréguas… Sai-se deste mundo por uma intervenção exterior, como quem acorda no meio de um pesadelo, como a criança que é chamada para o jantar a meio da brincadeira – sem epílogo, sem conclusão, sem continuação!

Texto Original: Isidore Ducasse dito Conde de Lautréamont;Selecção, Versão Portuguesa e Adaptação: Adolfo Luxúria Canibal;Música: Miguel Pedro, Vasco Vaz, António Rafael e Mão Morta;
Encenação: António Durães;
Cenografia: Pedro Tudela;
Figurinos: Cláudia Ribeiro;
Vídeo: Nuno Tudela;
Desenho de Luz: Manuel Antunes;
Interpretação: Mão Morta (Adolfo Luxúria Canibal – voz / Miguel Pedro – electrónica e bateria / António Rafael – teclados e guitarra / Sapo – guitarra / Vasco Vaz – guitarra e teclados / Joana Longobardi – baixo e contrabaixo);
Produção: Theatro Circo e Imetua – Cooperativa Cultural
ESTREIA NO THEATRO CIRCO, em Braga, A 11 E 12 DE MAIO DE 2007·
Outras apresentações:PORTALEGRE, Centro de Artes do Espectáculo, a 19 de Maio.

domingo, 6 de maio de 2007

SOBRE O WORKSHOP DE ESCRITA CRIATIVA DE PEDRO SENA-LINO EM SÃO JOÃO DA MADEIRA


Cartaz do workshop intensivo de Escrita Criativa

de Pedro Sena-lino em São João da Madeira

(26, 27 e 28 de Abril de 2007)


Foi com o maior prazer e satisfação que frequentei o workshop intensivo de escrita criativa do escritor Pedro Sena-Lino entre os dias 26, 27 e 28 de Abril, no Museu de Chapelaria de São João da Madeira. Confesso que já tinha ouvido falar em Escrita Criativa mas nunca soube de que é que se tratava até frequentar aquelas quatro maravilhosas aulas com o escritor e poeta Pedro Sena-Lino - que também desconhecia. 

Segundo o que eu entendi, trata-se de algo que foi inventado nos Estados Unidos da América, por professores da Universidade de Havard, preocupados com a falta de imaginação e criatividade dos seus alunos devido a uma série de bloqueios criativos que possuíam na construção do discurso e na comunicação em geral, entre outros problemas. Essas formações proliferaram pelos E.U.A desde então, chegando a aparecer a primeira tese de mestrado sobre esta matéria na Universidade do Iowa, na década de 1930.


Estas formações começaram a sair das universidades para espaços mais democráticos como clubes, associações e até cafés a partir dos finais década de 50 e princípios de 60 nos Estados Unidos da América. A sua estreia em Portugal acontece na década de 80, pela mão dos escritores Rui Zink e Ana Hatherly

No fundo, trata-se de um conjunto de ferramentas criativas do mundo da Linguagem que são frequentemente utilizadas por criativos e autores em todo o mundo, com vista a desbloquear a criatividade, libertar a imaginação, enriquecer o nosso vocabulário, melhorar a qualidade da nossa escrita, desenvolver e desconstruir a linguagem, fomentar a técnica, o trabalho árduo, a disciplina e a leitura de grandes obras do passado e do presente, procurando um equilíbrio entre a teoria e a prática da Escrita Criativa, de modo a tornar a nossa escrita mais automática e espontânea do que já é.


Durante esse quatro dias, não só tomei conhecimento de colegas fantásticos (entre os quais estava a actual Directora do Museu, doutora Suzana Menezes), mas também conheci a faceta mais extrovertida, criativa e mirabulante do nosso formador, Pedro Sena-lino, que nos fez rir e interessar cada vez mais por esta tão apaixonante e importante disciplina que me ensinou a desbloquar a criatividade a libertar a imaginação como ninguém e revolucionou a forma como eu penso, sinto, acredito e atiro para o papel, sem esperar juízos de qualquer espécie, a não ser de mim mesmo.


Não escrevi nenhuma obra durante esses dias, mas recebi muitas dicas e lições muito importantes sobre como escrever mais e melhor, de forma fluída e automática, como ninguém. Para muitos pode parecer estranho aquilo que vos vou dizer, mas, se querem saber mesmo a verdade, dá-me a parecer que, no fim-de-semana passado, frequentei a formação mais importante de toda a minha vida. E não apareceu na minha vida por acaso.


Muito obrigado pela iniciativa, Museu de Chapelaria! Muto obrigado Pedro Sena.Lino!


Bem hajam!


Tiago Moita


#TiagoMoita #escritacriativa #workshop #formacao #pedrosenalino #museudechapelariaSJM #lieteratura #literaturaportuguesa #Portugal #SJM #saojoaodamadeira



Museu de Chapelaria de São João da Madeira

sábado, 5 de maio de 2007

ECOS MUDOS: O PRIMEIRO LIVRO-ENIGMA DO MUNDO



“ECOS MUDOS” é uma fábula poética que conta a história de um poeta, de uma grande cidade dos nossos dias, que se apaixona por uma mulher que tenta convencê-lo a abandonar a sua vida de tristeza e solidão e da sua viagem até ao Inferno aonde acaba por encontrar os seus fantasmas e as suas memórias mais obscuras. Uma viagem à volta da fragilidade humana em oito capítulos cheios de mistério e emoção e um enigma misterioso, sobre um dos assuntos deste livro, expresso em código”.

A PARÁBOLA DA CONDIÇÃO HUMANA

Segundo o autor da obra "ECOS MUDOS" é uma fábula poética contemporânea que revela um ensaio geral sobre a condição humana, enriquecido com linguagem poética e referências religiosas, psicanalíticas e mitológicas, aonde a fragilidade do ser humano é o mote para a reflexão acerca deste tema tão complexo e, ao mesmo tempo, apaixonante.

Partindo da estória que está presente no poema que dá título ao livro, Tiago Moita começou a explorar os meandros da fragilidade humana, servindo-se dos seus conhecimentos filosóficos e de psicologia, assim como relatos de experiências sobre os mais diversos estados de alma que recebeu através de conversas quotidianas que escutou durante a sua vida, tanto de amigos como de conhecidos. Estados de alma esses que, segundo o autor, funcionam como ecos apenas sentidos pelo indivíduo e mudos perante uma sociedade cada vez mais preocupada com o seu próprio umbigo do que com o seu semelhante. Daí o nome do seu livro.

Percorrendo cada capítulo da sua obra, o leitor deixa de ser um mero espectador da estória que consubstancia o seu enredo e começará a se sentir como um reflexo de um espelho - objecto frequentemente referenciado neste livro, sobre a essência que identifica a sua própria existência. Cada pausa, linha, lágrima ou beijo retratado nos poemas e textos de "ECOS MUDOS" são um encadeamento de sentimentos que reflectem o ser humano enquanto um ser vivo em busca da razão da sua própria existência e do seu papel neste fardo de remendos a que chamam vida, como desabafa a personagem principal num dos poemas da obra de Tiago Moita.

"ECOS MUDOS" ao retratar de forma tão crua e profunda a fragilidade humana acaba por fazer também o retrato da própria humanidade. Um retrato de uma espécie que nasceu com a capacidade de escolher o seu próprio caminho e com uma mensagem de esperança, baseada no facto de que nesta vida tudo é sempre possível corrigir esse caminho e que a qualquer momento pode reparar os erros que comete, revelando em cada lição de vida uma luz dentro da sua alma que o faz sentir como parte muito especial num universo em constante mutação e essência que dá sentido ao seu nome.

COMO FUNCIONA O ENIGMA DO LIVRO?

“ECOS MUDOS” é um livro diferente de todos os outros livros alguma vez criados pelo facto de ser o primeiro livro Enigma do Mundo. Um livro Enigma é um livro interactivo aonde o autor do livro convida o leitor a participar num jogo que consiste na resolução de uma charada situada na terceira folha do livro. A palavra que dá resposta a essa charada tem as suas letras espalhadas e misturadas com outras letras do alfabeto latino, impressas pelas folhas de texto sob a forma de marcas d’água.

Para se chegar às letras o leitor terá que prestar muita atenção às folhas de texto do livro: existem nessas folhas um conjunto de caracteres (Números, símbolos, setas e caracteres) que puderam dar pistas para o leitor encontrar em cada folha de texto, dois códigos fundamentais: um, dirá ao leitor qual a letra certa, e o outro, qual a ordem certa da letra na construção da palavra que dá resposta ao enigma do livro, que versa sobre um dos seus temas.

O AUTOR:




Filho de um economista e de uma funcionária pública, Tiago de Vasconcelos e Moita nasceu a 15 de Abril de 1975, na Freguesia de Santa Justa em Lisboa - Cidade aonde viveu os primeiros anos da sua vida até aos dez anos de idade, altura em que migrou para S. João da Madeira, terra dos seus avós paternos.
Nessa Cidade, concluiu a quarta classe na escola Salazar em 1986; Fez o Ensino Preparatório na Escola Preparatória de S. João da Madeira em 1988 e terminou o ensino secundário no externato D. Dinis, na área de Humanísticas. Durante esse período, começou a escrever os seus primeiros poemas e praticou natação na AEJ (Associação Estamos Juntos).
Em Outubro de 1995, ingressou no Ensino Superior do Porto, mais propriamente na Universidade Lusíada do Porto, aonde frequentou o curso de Direito até 2001. Na Universidade, foi colunista permanente do primeiro jornal da Associação Académica da Universidade Lusíada do Porto nos anos 1997, 1998 e 2000, assim como foi membro do E.L.S.A (European Law Students Association) entre 1998 e 2001.
Após a sua saída na Universidade, trabalhou numa campanha autárquica em 2001; trabalhou como secretário administrativo numa importante empresa do sector têxtil da sua região em 2002; tirou cursos profissionais entre 2003 e 2005 e participou em alguns eventos culturais tanto a nível nacional como internacional entre 2004 e 2006.

A CAMINHO DE UM SONHO

Apesar de ter começado a escrever os seus poemas a partir dos quinze anos de idade, numa altura em que não possuía grandes conhecimentos de poesia, para além dos escritores e poetas que aprendeu na escola secundária como Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Bocage - poeta que, na altura, muito admirava, Tiago Moita só começou a escrever os seus primeiros poemas e textos em prosa com vinte anos de idade. Tudo graças ao empréstimo de um livro de poemas de Jim Morrison intitulado "Abismos" por parte de um primo seu que, segundo o escritor, mudou radicalmente a sua vida.
Durante o tempo em que esteve na Universidade Lusíada do Porto leu, para além de livros sobre a sua área, livros de escritores e poetas portugueses como Fernando Pessoa, Natália Correia, José Régio, José Saramago e António Lobo Antunes, e estrangeiros como Allen Ginsberg, Jack Kerouak, William S. Burroughs, Pablo Neruda, Bertold Brecht, Artur Rimbaud, Edgar Allan Poe, William Blake, Franz Kafka, Stephen King, Umberto Eco e Steven Saylor. De acordo com o escritor, foram escritos durante o seus seis anos de Faculdade mais de cem poemas e textos em prosa, tendo um desses poemas sido publicado no jornal da Associação Académica da sua Universidade em Outubro de 1998.
A partir de 2003, começou a a interessar-se mais por poesia portuguesa contemporânea, a partir da leitura de livros de poetas portugueses como Al Berto, Sophia de Mello Breyner Anderson, Sara Costa, José Luís Peixoto, Mário de Sá Carneiro, António Franco Alexandre, António Ramos Rosa, Herberto Hélder e Luiza Neto Jorge, bem como estrangeiros como Lautréamont e Rilke.
Em 2004 participou numa declamação teatral dum excerto dum texto do livro "Quanto Durou Jacques" do escritor Sanjoanense Teixeira Moita, seu tio, durante a apresentação do seu livro na Biblioteca Municipal de S. João da Madeira; Declamou o seu primeiro poema ao vivo no espaço cultural da Associação Ecos Urbanos, no espectáculo de encerramento da Workshop de Poesia "A Orquestra das Palavras"; Declamou dois dos seus poemas no auditório da Junta de Freguesia de Pindelo, Concelho de Oliveira de Azeméis, durante a realização do terceiro Encontro Nacional de Poetas Portugueses e publicou um dos seus poemas no jornal "O Regional".
Em 2005, participou em eventos culturais em Portugal e em Espanha aonde declamou poemas da sua autoria. Em 2006, participou com num evento cultural inserido na campanha "Poesia à Mesa" denominada Filo Café, onde declamou um dos seus poemas e lançou a sua primeira obra "ECOS MUDOS" na Fnac do Gaia Shopping a 22 de Abril desse ano, sob a chancela da Papiro Editora, que o levou a uma mini-digressão de quatro etapas de norte a centro de Portugal.


UM SEGUNDO

Só posso estar a sonhar...
Não consigo acreditar
Naquilo que os meus olhos me mostram
Uma visão divina sob a forma
De uma aguarela
Mesmo à frente do meu nariz
Da minha boca, vomito brasas
Do inferno de Dante
Da minha língua, caem-me as sílabas
Das palavras que nunca te direi

Meus olhos já tinham despertado
Do transe das horas murchas
Meu corpo começava a acordar, lentamente
Dos sonhos de seda escarlate
Que encontrei nos antros de volúpia
Aonde saciava os meus desejos
E que larguei pelas esquinas medonhas
Até ao despertar da madrugada

Sentia ainda o aroma do whisky
Encharcado nos meus ossos
A perturbar os meus sentidos
Sentia ainda o perfume da última mulher
Na ponta dos meus lábios
Sentado numa esplanada, faça um pedido
e sou atendido por um rapaz-caleidoscópio
Que me serve um café de saco
Para despertar o meu corpo
Da melancolia desta manhã de cloro

Um pardal delirante aterra no meu ombro
E sussurra no meu ouvido:
"Na inconsciência do ser esconde-se a chave do infinito"

Um segundo, foi quanto bastou
Para que os meus olhos ficassem presos nos teus
Um segundo, foi quanto bastou
Para sentir a libido a invadir minhas veias
Num segundo, morri
Num segundo, regressei dos mortos
Num segundo, renasci

Não consegui resistir...
Era mais forte do que eu...
O brilho do teu sorriso de pérolas
Fez cegar os meus olhos de esmalte
o aroma da camomila
Dos teus cabelos de fogo
Arrastou-se para a tua mesa
Como um zumbi enfeitiçado

Sentados, lado a lado
Começámos a trocar sorrisos
E a desenhar gestos no vento
Soltámos, livres, a alegria dos nossos rostos
das cinzas do quotidiano
Libertámos feixes de malícia
Da clausura dos nossos templos

Das linhas da tua mão
Fui contando-te os segredos das metáforas
Do som da tua voz
Remontei ao esplendor do verão das origens
Apertaste minha mão
E a morte deixou-nos
Até ao romper das horas

Num segundo, perdi meu fôlego
Num segundo. morri
Num segundo, regressei dos mortos
Num segundo, renasci

Selámos nosso encontro
Com um beijo de fogo
E acendemos juntos uma chama
No âmago do nosso amor
Junto ao meu ouvido
Sussurras-te um pedido
Do ventre do teu desejo
Antes de me puxares
Para fora do nosso recanto

Daquele beijo, só um sabor senti em minha língua
Daquele encontro, só um pensamento
Ecoava na minha mente...

..."Nós"...


TIAGO MOITA, Ecos Mudos (2006)



, in