domingo, 22 de março de 2009

A APRESENTAÇÃO DO LIVRO "A INEXISTÊNCIA DE EVA" DE FILIPA LEAL EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (19.04.2009)


A EVA INEXISTENTE

Esta foi, sem dúvida, uma semana de muitas surpresas. Sempre me habituei a esperar o impossível quando começava, todos os anos, a cada mês de Março, a campanha cultural "Poesia à Mesa" e este ano não foi uma excepção.

Foi só na semana passada, dia 12 de Março, que fui assaltado pela surpresa de saber que, uma das poetas (nunca gostei do termo "poetisa" porque, tal como a Poesia, o poeta não tem género; é universal) homenageada era, nada mais nada menos, que a Filipa Leal, a tal jornalista e poeta portuense que conheci no dia 11 de Abril de 2007, na minha terra, São João da Madeira, aquando da apresentação do seu segundo livro de Poesia "A Cidade Líquida e Outras Texturas" (Deriva Editora, 2006), obra que, nesse ano, chegou à 2.ª Edição.

É verdade que, desde esse ano, fiquei ainda mais intrigado e fascinado pela chamada "novíssima Poesia contemporânea portuguesa", que despoletou a partir de 2005 em Portugal e trouxe à ribalta poetas como Daniel Jonas, Joana Serrado, Catarina Nunes de Almeida e Filipa Leal - uma mulher que, desde então, encantou-me, quer pela sua Poesia, quer pela sua beleza etérea e personalidade forte. Quando fiquei a saber que ela tinha sido despedida do jornal "O Primeiro de Janeiro", em 2008, confesso que não esperava vê-la mais na minha vida. Daí o meu espanto, daí a minha ansiedade. 

Loucura ou puro instinto, dirigi-me à Livraria Santo António no dia 18 de Março e comprar, de uma assentada, três exemplares dos três último livros da escritora, jornalista e poeta portuense - a viver actualmente em Lisboa desde o fim do ano passado. A saber: "A Cidade Líquida e Outras Texturas" (2006), "O Problema de ser Norte" (2008) e o seu mais recente poemário "A Inexistência de Eva" (2009). A breve leitura que fiz a cada um deles comprovou a qualidade, irreverência e talento desta jovem poeta. Mas as surpresas não ficaram por aqui.


Da esquerda para a direita: Maria Helena Cruz, directora da 
Biblioteca Municipal de São João da Madeira, Filipa Leal e 
Germano Nunes.

Na quinta-feira, dia 19 de Abril de 2009, Filipa Leal foi convidada a apresentar o seu mais recente poemário na Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo em São João da Madeira, uma vez que era uma das poetas homenageadas no "Poesia à Mesa" deste ano. Mesmo tendo sido anunciada à última hora e apanhou do admiradores da sua obra, como eu, de surpresa. Atempadamente, tratei de levar os exemplares que comprei, no dia seguinte, jantar cedo e correr o mais depressa possível em direcção à Biblioteca Municipal da minha terra.

Em relação há três anos, o pequeno auditório da Biblioteca Municipal de São João da Madeira ficou mais preenchida. Talvez pelo facto da Filipa ser homenageado na "Poesia à Mesa" deste ano ou pela fama que a poeta foi obtendo ao longo dos últimos anos, que fez com que mais pessoas acorressem, naquela noite fria e nebulosa de Março, para conhecer de perto esta lindíssima poeta portuense  e uma das maiores revelações da Poesia Contemporânea Portuguesa do século XXI, segundo o JL em 2006.

A sessão de apresentação do novo poemário de Filipa Leal - essa encantadora poeta que, mal me avistou e eu refresquei a sua memória acerca da minha identidade, reconheceu-me, perguntou por mim e presenteou-me com o seu olhar cristalino e sorriso platinado, quando se sentou ao meu lado para escutar, por breves segundos, parte do meu (pequeno) percurso literário - fora dividia em três partes:

A primeira parte fora feita pela minha amiga e directora da Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo, Dr.ª Maria Helena Cruz que, ao falar do percurso da poeta, revelou a todo o público presente que aquela era a 3.ª vez que a Filipa vinha a São João da Madeira, uma vez que a primeira vez fora em 2003, quando ela participou, enquanto "diseur" convidada pelo colectivo "Fábrica dos Movimentos" - onde constavam nomes como Paulo Condessa, Nuno Moura, Ada Pereira da Silva e o Poeta Daniel Jonas - na primeira campanha cultural "Poesia à Mesa". Alarme. Não queria acreditar naquilo que tinha acabado de ouvir. Apenas uma frase ecoou na minha mente: "Queres ver que é ela?"


Filipa Leal

A segunda parte fora levada a cabo pelo amigo da Poeta, Germano Nunes. O amigo da Filipa fez uma apresentação muitíssimo engraçada e bem-disposta, revelando mais os atributos e qualidades pessoais da sua amigo e daquilo que sentia por ela do que a obra em si.


Filipa Leal com o seu amigo Germano
Nunes

A terceira e última parte da sessão coube à estrela do momento. Filipa agradeceu a todos os presentes e começou a falar um pouco mais acerca do seu novo livro. Segundo a Poeta "Este livro foi escrito há muito tempo" porque "primeiro, na altura em que começou a escrevê-lo, não tinha editora, e segundo, porque ia lançar "A Cidade Líquida e Outras Texturas". 

Este é um livro que fala de uma mulher dentro de uma sala branca. Eva. uma mulher sem memória, atormentada por uma voz muito próxima, a voz da consciência - individual e colectiva - que, segundo a poeta, assemelha-se à voz da tentação - desejo muito próximo do "consequente, inevitável e antiquíssimo "Medo de Existir"". No fim, declarou que "A Inexistência de Eva" é "um livro que recusa o pânico". 


Finda a sessão, consegui autógrafos aos 3 exemplares dos seus três últimos poemários, tirei fotos com ela e os seus amigos Germano Nunes e Mafalda Capela - fotógrafa que criou a foto de capa do seu último livro de Poesia - e trocámos dois dedos de conversa. Uma noite memorável graças à presença de uma pessoa inesquecível como a Filipa Leal.


Tiago Moita com Filipa Leal (ao centro) e Mafalda Capela.

Quando cheguei a casa encontrei a foto de uma rapariga que participou no "Poesia à Mesa 2003" e que me encantou de tal maneira que, entre Março e Abril de 2004, andei à procura por São João da Madeira, qual príncipe enamorado à procura da sua cinderela, julgando ser uma sanjoanense. Esta é a foto da rapariga que eu andava à procura há cinco anos atrás:


Filipa Leal 
(Poesia à Mesa 2003)

Tiago Moita.

quarta-feira, 18 de março de 2009

TIAGO MOITA PRESENTE NA CAMPANHA "POESIA À MESA 2009"


No programa cultural "POESIA À MESA 2009", o escritor Tiago Moita vai mais uma vez participar na peregrinação poética pelos bares da cidade de S. João da Madeira ao lado de José Fanha, Rita Salema e João Maria Pinto. O evento terá lugar nesta sexta-feira, dia 20 de Março.
O evento começa a partir das 21H30 na Biblioteca Municipal da região.
Para além da sua presença na peregrinação poética, Tiago Moita participou no projecto "O MAIOR POEMA DO MUNDO" organizado pela Associação Cultural TEIA DOS SENTIDOS com o seguinte verso:
TEMPO, LIBERDADE EM FLOR
METAMORFOSE EM MOVIMENTO
BEIJO HÚMIDO QUE FAZ DO AMOR
UMA ETERNIDADE SEM DOR NEM TEMPO
O MAIOR POEMA DO MUNDO vai ficar em exposição na Biblioteca Municipal até dia 22 de Março.

FILIPA LEAL EM S.JOÃO DA MADEIRA

É já nesta quinta-feira, dia 19 de Março, pelas 21H30 que S. João da Madeira tem o prazer de receber mais uma vez a escritora e poeta Filipa Leal.

O motivo da sua presença deve-se à apresentação do seu último livro "A inexistência de Eva" (Deriva Editores)

Compareçam!

Sobre a autora:


Filipa Leal nasceu no Porto em 1979. Formou-se em Jornalismo na Universidade de Westminster, em Londres, e é mestre em Estudos Portugueses e Brasileiros pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde apresentou a dissertação sobre os "Aspectos do cómico na poesia de Alexandre O'Neill, Adília Lopes Jorge Sousa Braga." Jornalista, fez uma breve incursão pela rádio e é editora do suplemento "Das Artes e Letras" no diário O Primeiro de Janeiro. Depois de um ano de formação no Balleteatro do Porto, começou a participar, em 2003, em recitais de poesia no Teatro do Campo Alegre, ciclo do qual faz parte. Integrou o primeiro Encontro Internacional de Escritores da Galiza (2006), A Festa da Poesia, em Matosinhos (2007), e a nona edição do Correntes d'Escrita (2008). Está representada nas antologias "Uma luz de Papel" (Ed. Eterogémeas, 2007) e "Pathos", do colectivo A Musa ao Espelho (Gaialivro, 2007). Tem colaborações dispersas nas revistas Egoísta e Mealibra. Participa nos Seminários de Tradução Colectiva de Poesia da Fundação da Casa de Mateus.

Outros Livros da Autora:
  • LUA-POLOROID (Ficção), 2003, Corpos Editora;


  • TALVEZ OS LÍRIOS COMPREENDAM (Poesia), 2004, Cadernos do Campo Alegre


  • A CIDADE LÍQUIDA E OUTRAS TEXTURAS (Poesia), 2006/ 2ª ed. 2007, Deriva


  • O PROBLEMA DE SER NORTE (Poesia), 2008, Deriva.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Projecto "O MAIOR POEMA DA CIDADE" (16 de MArço, Biblioteca Municipal de S. João da Madeira


OUTROS OLHARES: JULIANA SEABRA


"FECUNDAÇÃO" e "ALÍVIO" (Elisabete Monteiro)



"Fecundação"



"Alívio"

"SINOPSE" de Herberto Hélder


Sinopse:
Engoli água. Profundamente: — a água estancada no ar.
Uma estrela materna.
E estou aqui devorado pelo meu soluço,
leve da minha cara.
O copo feito de estrela. A água com tanta força
no copo. Tenho as unhas negras.
Agarro nesse copo, bebo por essa estrela.
Sou inocente, vago, fremente, potente,
tumefacto.
A iluminação que a água parada faz em mim
das mãos à boca.
Entro nos sítios amplos.
— O poder de reluzir em mim um alimento
ignoto; a cara
se a roça a mão sombria, acima
da camisa inchada pelo sangue,
abaixo do cabelo enxuto à lua. Engoli
água. A mãe e a criança demoníaca
estavam sentadas na pedra vermelha.
Engoli
água profunda

******
a vida inteira para fundar um poema,
a pulso,
um só, arterial, com abrasadura,
que ao dizê-lo os dentes firam a língua,
que o idioma se fira na boca inábil que o diga,
só quase pressentimento fonético,
filológico,
mas que atenção, paixão, alumiação
¿e se me tocam na boca?
de noite, a mexer na seda para, desdobrando-se,
a noite extraterrestre bruxulear um pouco,
o último,
assim como que húmido, animal, intuitivo, de origem,
papel de seda que a rútila força lírica rompa,
um arrepio dentro dele,
batido, pode ser, no sombrio, como se a vara enflorasse com
as faúlhas,
e assim a mão escrita se depura,
e se movem, estria atrás de estria, pontos voltaicos,
manchas ultravioletas a arder através do filme,
leve poema técnico e trémulo,
linhas e linhas,
línguas,
obra-prima do êxtase das línguas,
tudo movido virgem,
e eu que tenho a meu cargo delicadeza e inebriamento
¿tenho acaso no nome o inominável?
mão batida, curta, sem estudo, maravilhada apenas,
nada a ver com luminotecnia prática ou teórica,
mas com grandes mãos, e eu brilhei,
o meu nome brilhou entrando na frase inconsútil,
e depois o ar, e os objectos que ocorrem: onde?
fora? dentro?no aparte,
no mais vidrado,no avêsso,
no sistema demoroso do bicho interrompido na seda,
fibra lavrada sangrando,
uma qualquer arte intrépida por uma espécie de pilha
eléctrica
como alma: plenitude,
através de um truque:
os dedos com uma, suponhamos, estrela que se entorna sobre
a mesa,
poema trabalhado a energia alternativa,
a fervor e ofício,
enquanto a morte come onde me pode a vida toda

*****
aparas gregas de mármore em redor da cabeça,
torso, ilhargas, membros e nos membros,rótulas, unhas,
irrompem da água escarpada,
o vídeo funciona,
água para trás, crua, das minas,
tu próprio crias pêso e leveza,
luz própria,
levanta-os com o corpo,
cria com o corpo a tua própria gramática,
o mundo nasce do vídeo, o caos do mundo, beltà, jubilação,
abalo,
que Deus funciona na sua glória electrónica

* *****
rosto de osso, cabelo rude, boca agra,
e tão escuro em baixo até em
cima a linha
de ignição das pupilas
¿em que te hás-de tornar, em que nome, com que
potência e inclinação de cabeça?
o rosto muito, o ofício turvo, o génio, o jogo,
as mãos inexplicáveis,
a luz nas mãos faz raiar os dedos,
que a luz se desenvolva,
e a madeira se enrole sobre si mesma e teça e esconda a obra
e retorne e abra e mostre então
a abundância intrínseca,
porque se eriça num arrepio e se alvoroça
o espaço, e brilha quando,
no dia global,
espacial, no visível,
o caos alimenta a ordem estilística:
iluminação,
razão de obra de dentro para fora
— mais um estio até que a força da fruta remate a forma

Herberto Hélder
"A Faca não corta o fogo" (Assírio & Alvim, 2008)