terça-feira, 30 de abril de 2013

Poema LIVRE-ARBÍTRIO de Tiago Moita




Escolhe
aceita esta dádiva
como parte de ti

escolhe tudo escolhe agora
escolhe o espelho a casa
e a hora fecunda
escolhe o macho e a fêmea 
para embalar o teu berço 
na copulação do fogo
escolhe a língua e a pele
escolhe o signo do teu dia
para a gestação do teu karma

O mundo é uma estrada perdida
feita de espinhos e pétalas
de rosas selvagens
semântica viva de sensações
e sentidos
em fila de espera para lado nenhum
labirinto de imagens e sombras
em constante mutação
imitação da vida 
em três actos

O filme prossegue sem intervalos
nem interrupções
o actor principal dará lugar em breve
ao único espectador da sala
escolhe tudo escolhe agora
espera tudo o que não pensas esperar
vive tudo o que juraste morrer
no efémero do imediato
esconde-se um cálice de infinito
na profundidade de cada silêncio
existe um sol para cada palavra

Não confundas nuvens com estrelas 
resiste à agridoce tentação da fuga

Decifra cada metáfora sanguínea
na sublimação das legendas
não confundas figurantes e coisas
com actores principais

O actor
A caneta
O papel
A realização
e o argumento
és tu

Por isso escolhe
mesmo quando penses
que não tens nada para escolher.

TIAGO MOITA
"Post Mortem e Outros Uivos"
WorldArtFriends/Corpos Editora
2012

(Nota: este poema foi publicado no Facebook do autor (Tiago V.Moita) no dia 25 de Abril deste ano. Viva a Liberdade!)

domingo, 21 de abril de 2013

POETAS PORTUGUESES DO SÉCULO XXI: ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO


Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro

Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
por todos os primeiro-ministros
e pelos segundos
e pelos terceiros
estou apaixonado por todos os presidentes de Câmara
e de Junta
por todos os benfeitores de obra feita
por todos os que erguem e mandam erguer
estradas, pontes, casas, estádios, fontanário, salões paroquiais
estou apaixonado por todos aqueles que governam, que executam, 
que decidem sem pestanejar
por todos aqueles que dão o cu pela causa pública
que se sacrificam pelo bem comum sem nada pedir em troca.
Quero votar entusiasticamente em todos eles
afogá-los em votos
até que se venham 
em triunfo
Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
quero vê-lo num bacanal 
com todos os ministros
de todos os ministérios 
e arfar de prazer 
e enrabar o défice, o orçamento
o IVA, a inflação, a recessão
ágil e empreendedor
como um super-homem.
Estou apaixonado pelo primeiro-ministro
Quero vê-lo num filme porno.

De Declaração de amor ao Primeiro-Ministro

ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO, ou A.P.Ribeiro, nasceu no Porto em Maio de 1968. Tem permanecido em Braga, Porto, Trofa, e Vilar do Pinheiro (Vila do Conde). Publicou cerca de dez livros de poesia e um livro de crónicas entre 1988 e 2012. Foi fundador da Revista Literária "Águas Furtadas". Colaborou (e colabora) nas revistas "Piolho/A voz de Deus"; "Cráse", "Bíblia" entre outras. Actuou como disuer/performer  nos Festivais Paredes de Coura de 2006 (ao lado de Adolfo Luxúria Canibal e Isaque Ferreira) e de 2009 com um espectáculo "Um poeta no sapato", local onde regressa a 26 de Maio com a performance "Se pagares uma cerveja está a financiar a Revolução", acompanhado de Suzana Guimarães. Coordenou com Luís Carvalho as sessões de "Poesia de Choque" no Clube Literário do Porto e tem dinamizado as sessões de poesia dos bares "Púcarus" e "Pinguim", no Porto. Foi activista estudantil na Faculdade de Letras na Universidade do Porto e no Jornal Universitário do Porto. É licenciado em Sociologia e é cronista em jornais. Há quem lhe chame provocador, agitador profissional e um dos poetas com mais ascenção mediática da actualidade.

OBRAS PUBLICADAS
  • "Fora da Lei" (E-ditora, 2012)
  • "Café Paraíso" (CulturePrint, 2011)
  • "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller os mercados e outras conversas" (WorldArtFriends/Corpos Editora, 2011)
  • "Um poeta no Piolho" (Corpos Editora, 2009)
  • "Queimai o dinheiro" (Corpos Editora, 2009)
  • "Um poeta a mijar" (Corpos Editora, 2007)
  • "Saloon" (Edições Mortas, 2007)
  • "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco, 2006)
  • "Sexo, Noitadas e Rock N´Roll" (Edições Pirata, 2004)
  • "Á mesa de um homem só" (O silêncio da Gaveta, 2001)
  • "Gritos, Murmúrios" (com Rui Soares, Grémio Lusíada, 1988)

NEW AGE ART (MAXINE OLSON)


"When God was a Woman"

Maxine Olson

Poema "PROMESSA" de Tiago Moita


PROMESSA

 Um dia julgaremos de olhos fechados
sem pedras na boca nem lágrimas nos dedos
quem nos tentou ferir e ignorar
como se fôssemos uma praga desconhecida
do umbigo do mundo

Soltar a voz que nos guia 
como quem mastiga o silêncio 
de uma página em branco
abraçar o presente que nos rejeita
como quem beija pela última vez 
a vida entre dois tempos

Fazer da nossa aura índigo 
farol da humanidade
burilar a luz sem palavras
recorrendo ao sangue do verbo
que fez parir o universo

Marcharemos sobre cidades mudas
fantasmas em ruínas e naturezas mortas
como serpentes de fogo
em florestas virgens 
com corações em flor
como espadas
e o terceiro olho
como bússola

Por onde passarmos 
expiaremos sombras de espelhos
derrubaremos muros e montanhas cinzentas
queimaremos as últimas películas fotos
quadros partituras e poemas gastos
pela usura da idade
de fotocópias baratas de grandes génios
numa chama violeta

E então...

Celebraremos a morte do sono
com uma lua lavrada no rosto 
e uma visão oblíqua do homem no mundo
tempo terá o fulgor de um poema 
e Ser ou Não Ser será uma certeza
e nunca mais uma questão 
de perspectiva.

Tiago Moita
"Post Mortem e Outros Uivos"
WorldArtFriends/Corpos Editora
Porto, 2012

SABEDORIA PURA (RUMI)


"A inspiração que procuras já existe dentro de ti. Fica em silêncio e escuta"

Jalad Ad-Din Muhammad Rumi

(Poeta, Jurista e Teólogo Sufi Persa)

(1207-1273)

A Sessão de apresentação oficial do último livro de poesia de Tiago Moita "POST MORTEM E OUTROS UIVOS" em S.João da Madeira (Quinta-Feira, 22.11.2012)

Foi com uma enorme alegria que vi publicado o meu segundo livro de poesia "Post Mortem e Outros Uivos". Desta vez, e pela primeira vez, comecei a digressão de promoção de um livro na terra que me viu crescer, não só como ser humano mas também como escritor e poeta. A sessão ocorreu no ano passado, quinta-feira, dia 22 de Novembro - dia do 82º aniversário do grande poeta e escritor, Herberto Hélder (facto que, nessa sessão, não foi olvidado pelo autor deste blogue). A sessão começou com a leitura poética do primeiro poema do livro, levado a cabo pela minha amiga Susana Paiva e pela (magnífica) apresentação inicial feita pela Mestre e Professora do ensino secundário, Dr.ª Cristina Marques à minha obra.

Tanto eu como a professora Cristina Marques lemos alguns poemas do livro. Uma verdadeira homenagem à poesia e ao sonho numa sessão muito animada e (pouco) formal.

Agradeço a todos os que me ajudaram a tornar este sonho possível. Em breve, passarei o vídeo da sessão completa. Até lá, deixo-vos com algumas fotos desse maravilhoso evento.


Susana Paiva lendo o poema "Post Mortem"


Cristina Marques (à minha esquerda, da casaco vermelho) apresentando a minha obra


O público que assistiu à sessão