segunda-feira, 23 de setembro de 2013

PARA SEMPRE, ANTÓNIO RAMOS ROSA (1924-2013)


NÃO POSSO ADIAR O AMOR

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o grito de libertação

Não posso adiar o coração.

ANTÓNIO RAMOS ROSA
(1924-2013)

Adeus nunca; para sempre...

ANTÓNIO RAMOS ROSA nasceu em Faro em 1924. Ensaísta e tradutor, dirigiu as Revistas Árvore, Cassiopeia e Cadernos do Meu Dia, que, em 1960, encerra a edição por ordem da polícia política P.I.D.E.Fez parte da M.U.D Juvenil e colaborou com inúmeras outras revistas. Poeta, com uma vasta obra, fundamental na História da Literatura contemporânea portuguesa, recebeu o prémio Pessoa em 1988 e o Prémio Europeu de Poesia em 1991. Editou mais de cinquenta obras poéticas. O seu livro de poesia "Génese", editado em 2005 pela Roma Editora, valeu-lhe a atribuição do Prémio P.E.N Club poesia. 

Faleceu a 23 de Setembro de 2013.

Partiu o Homem, ficou a vida na palavra e no pensamento.

domingo, 8 de setembro de 2013

POETAS PORTUGUESES DO SÉCULO XXI: DANIEL ABRUNHEIRO


NEM JUNHO NEM INVERNO ACABAM

I. Simetria

Casas há que são cartas por escrever
outras são também brancas, mas cisnes
as casas têm pescoços caligráficos.
Eles fecham a boca e abrem os olhos.
Quando é o contrário, é a tragédia.
Todas as tragédias são domésticas.
Passo na rua, fica-se-me a sombra nas casas.
Nunca volto inteiro a casa.
Também os pescadores perdem no mar a sombra.
Quando voltam, voltam estátuas de sal.
Aves e mulheres tossem-nos.

Árvores há que são lápis escreventes
Outros são também negras, mas corvos.

De Licor, Sabão e Sapatos

DANIEL ABRUNHEIRO nasceu em Coimbra (Santa Cruz) em 1964, cidade que o viu crescer e formar, onde se licenciou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra entre 1982 e 1986. Depois de licenciado, deixou a sua cidade para dar aulas no ensino secundário, do qual, fez vida durante dez anos. Começou em Peniche, regressou a Coimbra para dar aulas em Taveiro, estando um ano em cada escola.

Foi através do Instituto D.João V, no Louriçal, que chegou a Pombal, concelho que acabaria por o adoptar. Leccionou durante seis anos nessa terra e mais tarde voltou ao ofício de jornalista. Em Lisboa, é formando no Cenjor (Centro de Formação Profissional para Jornalistas) no Curso Geral de Jornalismo, sendo depois, mais tarde, convidado para dar formação em língua portuguesa e Escrita Jornalística.

Passou depois pela Antena 2, onde fez estágio e deu entrada no mundo do jornalismo a tempo inteiro.

De volta às raízes em Coimbra, passa pelas redacções dos três principais jornais regionais da cidade dos estudantes, no quinzenário "Jornal de Coimbra" e nos Diários "As Beiras" e "Diário de Coimbra". Em 1998, ingressa no Grupo Sojormedia, com um regresso ao Concelho de Pombal, onde ingressa a redacção do jornal "O Eco".

OBRAS PUBLICADAS:
  • "Terminação do Anjo" (Ed.Autor, 2008)
  • "Licor, sabão e sapatos" (Ed.Autor, 2007)
  • "O preço da chuva" (Ed.Autor, 2006)
  • "Cronicão" (Ed.Autor, 2003)