segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"UM CAFÉ COM...POESIA" REGRESSA À CONFEITARIA COLMEIA EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (04.11.2014)


AVISO À NAVEGAÇÃO!!!

Depois do grande sucesso do último "POESIA À SOLTA" no Neptúlia Bar na terça-feira passada, as noites poéticas mensais em São João da Madeira continuam no mês de Novembro!

A primeira noite poética, denominada "UM CAFÉ COM...POESIA", começa já na terça-feira da próxima semana, dia 4 de Novembro, a partir das 21H30 na Confeitaria Colmeia (Praça Luis Ribeiro). 

Pela primeira vez, essa sessão traz um desafio: dizer pelo menos um poema, da vossa autoria ou de um(a) poeta do vosso coração, de cor e salteado nessa sessão!

Quem quer participar no desafio?

Venham celebrar a festa da Poesia e soltar os poemas que habitam dentro de vós e  no silêncio das gavetas e dos livros!

Conto convosco?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"O MOSTRENGO" DE FERNANDO PESSOA (Versão João Villaret)


O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar
na noite de breu ergueu-se a voar;
à roda da nau rodou três vezes,
rodou três vezes a chiar,
e disse "Quem é que ousou entrar
nas minhas cavernas que não desvendo,
meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse, tremendo,
"El-Rei D. João Segundo!"

"De quem são as velas de onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?"
Disse o mostrengo e rodou três vezes.
Três vezes rodou imundo e grosso.
"Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
e escorro os medos do mar sem fundo?"
E o homem do leme tremeu, e disse:
"El-Rei D. João Segundo!"

Três vezes do leme as mãos ergueu
Três vezes ao leme as repreendeu
E disse no fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
e mais que o mostrengo que me alma teme
e roda nas trevas do fim do mundo,
manda a vontade que me ata ao leme,
de El-Rei D. João Segundo!"

Fernando Pessoa
"Mensagem"
1934

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

SOBRE A QUINTA SESSÃO POÉTICA MENSAL "POESIA À SOLTA" NO NEPTÚLIA BAR EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (TERÇA-FEIRA, 21.10.2014,21H30)


"O ÊXTASE DO SILÊNCIO"

Dificilmente esquecerei o dia de ontem, aquele 21 de Outubro de 2014 no Neptúlia Bar em São João da Madeira. Se, por ventura, existia alguma nesga de dúvida, uma pequena nuvem de pessimismo a respeito do êxito desta iniciativa que eu, mais o meu amigo Edmundo Silva, começámos a 20 de Maio deste ano, precisamente neste bar, foi dissipada em menos de duas horas e meia, como uma gota de água engolida pelas labaredas rubras de uma fogueira sem sono. Naquela noite de pura partilha, silêncio, euforia, intimidade e, acima de tudo, Poesia, ninguém ficou indiferente ao que se sentiu naquela sessão.

Se a Poesia, por si só, já fluía sossegada nas sessões anteriores, como um rio tranquilo numa tarde primaveril a caminho da sua foz, naquela noite assumiu-se como um vendaval de sentimentos, emoções e desassossegos como nunca imaginei encontrar em São João da Madeira.

Em pouco mais de duas horas e meia escutou-se religiosamente o desassossego de Herberto Hélder, Nuno Júdice e Fernando Pessoa, revisitou-se a melancolia de Álvaro de Campos, a impetuosidade de José Régio, a força de uma palavra em Eugénio de Andrade e Manuel António Pina, o pensamento poético do saudoso António Ramos Rosa, a revolta lírica de Manuel Alegre - transporta para os tempos de hoje - e a insatisfação contemporânea de Sara F. Costa.

Soltou-se a voz a poetas consagrados e desconhecidos, presenças habituais e forasteiros estreantes nestas andanças, principalmente jovens, onde nenhuma palavra ou poema foram ditos por mero acaso.

Deu-se voz à poesia infantil de João Pedro Méssender, o amor e o erotismo andaram de mãos dadas na poesia de Alberto Pimenta e Paul Leminsky para se assistir, em êxtase e esplendor, à exaltação do sentimento patriótico português, através de uma declamação apoteótica e efusiva de três poemas da "Mensagem" de Fernando Pessoa que não deixou ninguém indiferente e (quase) sem fôlego.

Mais que uma simples tertúlia, a noite de ontem foi um intervalo de êxtase poético de pura "liberdade livre" (ou "liverdade"), que terminou com "Pastelaria" de Mário de Cesariny como cereja no topo de uma sessão que ficou para sempre marcada nas mentes e nos corações de quem participou, ou simplesmente assistiu, assim como na memória das estrelas que brindaram este "Poesia à Solta" com o seu brilho celeste.

Próxima paragem: "Um Café com...Poesia" na Confeitaria Colmeia! Terça-Feira, dia 04.11.2014 a partir das 21H30.

Conto convosco!

Tiago Moita

Aqui ficam as fotos do evento:


Tiago Moita - um dos coordenadores das noites poéticas nos cafés
e bares de São João da Madeira, a par de Edmundo Silva - com 
alguns dos participantes da quinta noite poéticas "POESIA À 
SOLTA" no Neptúlia Bar.


Da esquerda para a direita: Fábio Silva, António Manuel Silva,
Dr. Francisco Costa e o Dr. Flores Santos Leite


Mais pessoas presentes que assistiram - e participaram - na
quinta sessão poética mensal "POESIA À SOLTA" no
Neptúlia Bar.


Carlos Pinho lendo um poema de Manuel Alegre


O poeta António Manuel Silva lendo um dos seus
poemas


O Dr. Flores Santos Leite lendo um dos seus sonetos


Fábio Silva dizendo um poema da sua autoria


O Dr. Luís Quintino lendo o poema "Lisboa"
do livro "A Matéria do Poema" de Nuno Júdice
(D.Quixote, 2008)


Rita Mendes lendo um poema de João Pedro
Méssender


Isabel Barbosa declamando um poema de 
Manuel António Pina


André de Oliveira lendo um poema da sua autoria


Um jovem lendo o célebre "Poema em linha recta"
de Fernando Pessoa


A poeta sanjoanense Dina Silvério lendo um poema
da sua autoria


Raquel Gomes de Pinho lendo um poema
da sua autoria


Isabel Ferreira lendo o poema "Não, isso não dá, não vai dar"
do livro "O Sono Extenso" de Sara F. Costa 
(Âncora Editora, 2011)


O doutor Ângelo Alberto Campelo de Sousa
declamando efusivamente os poemas "Mar
Português", "Padrão" e "O Monstrengo" da
"Mensagem" de Fernando Pessoa.


O Dr. Francisco Costa lendo o "Cântico Negro"
de José Régio


Inês Severino lendo um poema de António
Ramos Rosa

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

"POESIA À SOLTA" regressa amanhã ao Neptúlia Bar em São João da Madeira (Terça-feira, 21.10.2014, 21H30)


Depois dos estrondosos sucessos que foram as sete primeiras noites poéticas mensais em São João da Madeira, o Neptúlia Bar regressa a mais um "Poesia à Solta" esta terça-feira, 21 de Outubro, a partir das 21H30.

A participação é livre e a entrada é gratuita!

Apareçam!...e tragam um amigo/parente/conhecido convosco. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

"POEMA DA DESPEDIDA" de Mia Couto


POEMA DA DESPEDIDA

Nunca saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Talvez o Amor
neste tempo 
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora, 
não resta de mim
que seja meu 
e quanto tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
ainda assim, 
escrevo.

MIA COUTO

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

SOBRE A TERCEIRA SESSÃO POÉTICA MENSAL "UM CAFÉ COM...POESIA" NA CONFEITARIA "COLMEIA" EM SÃO JOÃO DA MADEIRA ( 07.10.2014)


CRÓNICA DE UMA DESPEDIDA INTERROMPIDA

Por vezes as maiores surpresas surgem quando menos esperamos. Estava uma noite aziaga e um tempo que não queria dar tréguas à cidade. A presença de vida na Praça Luís Ribeiro resumia-se a meras sombras fugidias, almas desesperadas por um refúgio da intempérie, um encontro marcado inadiável ou o regresso tardio ao conforto dos lares. Apenas na Confeitaria Colmeia - qual aldeia gaulesa entrincheirada por acampamentos de indiferença estóica por todos os lados - era possível assistir-se a um intervalo de paz e, de quando em vez, de desassossego, prestes a soltar-se do silêncio que corre nas veias dos poemas.

O que parecia uma pequena concentração humana transformou-se nuam simples e acolhedora comunidade fraterna e ávida por saciar uma sede invisível aos olhos do mundo e impossível de ser satisfeita pela espuma dos dias ou adiada por uma tempestade outonal, como aquela que se fazia sentir naquela noite de 7 de Outubro em São João da Madeira, mas que foi impossível de demover o espírito dos poucos amantes da Cultura e cúmplices dessa nobre arte de narrar o silêncio do Universo que é a Poesia.

Durante cerca de duas horas, a Poesia viajou pelos corações e mentes de todas aquelas almas como uma fénix, acabada de renascer das cinzas, voando de palavra em palavra, de poema em poema pelos quatro cantos daquele estabelecimento. Meditou-se com a Poesia de Mia Couto, Fernando Pessoa, Nuno Júdice e Walt Whitman, riu-se dos poemas de Vasco Graça Moura, Mário Henrique Leiria e Alberto Pimenta e soltaram-se memórias e saudades através dos poemas de Ondjaki e Herberto Hélder. Leram-se poemas para pessoas e até para os animais, deram-se recados para a sociedade e para os governos, ouviram-se vozes habituais e estreantes, leu-se Poesia do papel, do livro, de um Tablet ou mesmo à capela. Vieram pessoas da terra e de muito longe. 

Julgou-se um fim esperado por uma vontade alheia às causas nobres de tamanho evento. Uniram-se vozes e apresentaram-se ideias que acabaram por afastar, no dia seguinte, uma nuvem negra de indiferença que atormentava uma iniciativa mas que acabou por não passar de uma miragem de um pesadelo, ultrapassado por uma força muito superior à vontade humana e aos estados de alma do tempo.

Aqui ficam as fotos do evento:


Parte do público que assistiu e participou na sessão


O início das intervenções poéticas


Tiago Moita - um dos mentores e coordenadores
das sessões poéticas mensais nos cafés e bares de
São João de Madeira - lendo um texto do "Livro
do Desassossego" de Bernardo Soares/Fernando 
Pessoa (Autoria da foto: Maria Clara Carvalho)


O doutor Magalhães dos Santos lendo um dos
seus poemas


O Dr. Flores Santos Leite lendo algumas das suas quadras


O doutor Luís Quintino lendo um poema do 
último livro do poeta Nuno Júdice 
"O FRUTO DA GRAMÁTICA"
(D.Quixote, 2014)


O poeta sanjoanense Fábio Silva dizendo um dos seus poemas


O escritor e poeta sanjoanense António Manuel Silva
lendo um dos seus poemas


A professora doutora Maria Teresa Stanislau 
lendo um poema do escritor e poeta angolano
Ondjaki (Prémio José Saramago, 2014)


Raquel Gomes de Pinho lendo um poema esotérico
de Fernando Pessoa


O doutor Ângelo Alberto Campelo lendo
"O Cântico dos Animais" de São Francisco de
Assis


Marco António Santos lendo um poema de 
Bertold Brecht


Carlos Pinho lendo o célebre "Poema em linha recta"
de Fernando Pessoa


O doutor Francisco Costa lendo um poema de
António Gedeão