terça-feira, 30 de junho de 2015

PRIMEIRA "FUGA POÉTICA" NO CAFÉ "O POETA" EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (21.07.2015)


AVISO À NAVEGAÇÃO!!!

Depois do grande sucesso da 11ª "Fuga Poética" na Confeitaria "Colmeia", na primeira terça-feira deste mês, as noites poéticas mensais em São João da Madeira regressam em força no dia 21 DE JULHO, terceira terça-feira do mês, às 21H30, desta vez num novo espaço onde irão decorrer todas as "Fugas Poéticas" de cada mês em São João da Madeira: o café "O Poeta"! (Rua Condestável Álvaro Pereira, Parque municipal Ferreira de Castro, 3700-001 São João da Madeira).

Nessa sessão, tal como aconteceu na outra, os desafios mantêm-se:

1. Dizer pelo menos um poema, da vossa autoria ou de um(a) poeta do vosso coração, de cor e salteado nessa sessão.

2. Dizer um poema sobre o AMOR e o EROTISMO (temas escolhidos na sessão poética anterior)

NOTA: Estes desafios são FACULTATIVOS! Aqueles que os aceitarem, aceitam de sua livre e espontânea vontade! Quem aceitar o segundo, terá o primeiro quarto de hora para dizer o poema dos temas escolhidos.

Quem quer participar no desafio?

Venham celebrar a festa da Poesia e soltar os poemas que habitam dentro de vós e no silêncio das gavetas e dos livros! 

terça-feira, 23 de junho de 2015

SOBRE A 13ª "FUGA POÉTICA" NO NEPTÚLIA BAR EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (16.06.2015)

"PORTUGAL REVISITADO"

Enaltecer ou satirizar um país como Portugal foi sempre um dos temas mais caros da poesia portuguesa, sobretudo numa época de crise de identidade e de valores onde o desalento e o desassossego que dão azo ao pessimismo e fatalismo dos portugueses é de tal maneira exacerbado que faz com os portugueses, amantes da poesia, perguntem a si próprios qual o futuro de Portugal e o seu papel na poesia portuguesa.  Reflexões e opiniões avulsas, mas importantes que preencheram aquela noite de terça-feira, dia 16 de Junho, no Neptúlia Bar em São João da Madeira.

Não havia motivos para faltar naquela noite. O clima e o ambiente estavam propícios para o convívio e para a partilha. a poucos minutos do começo da tertúlia. Pequenas impressões digitais e ideias de poemas eram trocadas em silêncio, aguardando o arranque de mais uma sessão poética mensal naquele estabelecimento. Terminados os cumprimentos e troca de impressões, Tiago Moita declarou a abertura da sessão, dando as boas-vindas a todos os presentes e abrindo as hostes com a leitura do poema "Portugal" de Jorge de Sousa Braga - poema dedicado ao tema (facultativo) do mês.

E o repto ao mote não se fez esperar. Mal o coordenador terminou de dizer o poema deste célebre poeta contemporâneo português dos anos oitenta do século passado, natural do Porto, os tertulianos, quais flores despertas pelos primeiros sinais etéreos e fios de sol da primavera, começaram a levantar-se e a dar voz os poemas de Agostinho da Silva, Miguel Torga, Joel Lira, Ruy Belo, Alexandre O'Neill, Sebastião da Gama, Fernando Pessoa, Ana Paula Catana, José Fanha, José Régio, João de Deus, Al Berto, Manuel Fernando Gonçalves, Oswaldo Montenegro, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner Andresen, Manuel Alegre, António Moleirinho de Andrade, Irene Lisboa, Anthero Monteiro, Ana Albergaria, António Carlos Santos, Luís Cília, Sebastião Alba, Filinto Elísio, alguns poetas locais e desconhecidos e onde não faltaram homenagens a Tiago Moita e Edmundo Silva, através da leitura de alguns dos poemas dos dois fundadores das "Fugas Poéticas" - uma iniciativa que tem resistido cada vez mais à voragem do tempo e que tem, dentro das suas possibilidades, imprevistos e obstáculos, conservado o espírito de convívio e gosto pela partilha da leitura e da poesia em São João da Madeira.

PRÓXIMA PARAGEM: Confeitaria "Colmeia", dia 7 de Julho de 2015, terça-feira, 21H30.

TEMA (FACULTATIVO) DO MÊS: Amor e Erotismo.

Aqui ficam as fotos do evento 


Parte do público presente na sessão.


Tiago Moita - o coordenador e um dos fundadores das "Fugas
Poéticas" - noites poéticas nos cafés e bares de São João da Madeira
- juntamente com Edmundo Silva.


Carlos Pinho lendo o poema "Queria que os Portugueses"
do Professor Agostinho da Silva.


M Conceição Gomes lendo o poema "Portugal" de
Miguel Torga.


Sãozita Alves lendo o poema "Testamento" de 
Joel Lira.


Isabel Barbosa lendo o poema "Portugal Futuro"
de Ruy Belo. 


Raquel Gomes de Pinho lendo o poema "Portugal"
de Alexandre O'Neill. 


Luís Quintino lendo "Escrever" de Irene Lisboa.


O doutor Magalhães dos Santos lendo algumas
quadras populares.


Vânia Soares lendo o poema "O Meu País Desgraçado"
de Sebastião da Gama.


O doutor Ângelo Alberto Campelo Sousa declamando
o célebre poema "Mar Português" de Fernando Pessoa.


Rosa Familiar (Flor Yaleo) lendo um poema de
Ana Paula Catana.


António Pinheiro lendo um poema da sua autoria.


O doutor Magalhães dos Santos lendo um excerto de uma adaptação
de uma peça de teatro com Raquel Gomes de Pinho.



Raquel Gomes de Pinho participando na leitura de uma adaptação 
de uma peça de Teatro com o doutor Magalhães dos Santos.


O doutor Ângelo Alberto Campelo Sousa 
declamando o poema "Post Mortem" de Tiago Moita.


Natércia Nunes lendo o poema "Portugal" 
de Manuel Alegre.


Jorge Madureira lendo o poema "No meu país"
de Sebastião Alba.


Após o encerramento de mais uma "Fuga Poética" (mensal) no
Neptúlia Bar em São João da Madeira. (Até Julho!)

sábado, 20 de junho de 2015

TIAGO MOITA NA 85ª FEIRA DO LIVRO DE LISBOA: AGRADECIMENTO PÚBLICO


Gostaria de agradecer à Chiado Editora e à organização da A.P.E.L pela oportunidade de poder estar presente 85ª Feira do Livro de Lisboa. Apesar da chuva, a sessão de autógrafos foi um sucesso e cumpri um sonho (adiado) há 30 anos: voltei a visitar a Feira do Livro de Lisboa.

A todos aqueles que puderam estar presentes, o meu muito obrigado.

Tiago Moita.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

NOTÍCIA DA PRESENÇA DE TIAGO MOITA NA 85.ª FEIRA DO LIVRO DE LISBOA (11.06.2015)

 


Publicação da notícia da presença de Tiago Moita na sua
primeira sessão de autógrafos na 85.ª Feira do Livro de
Lisboa no dia 14 de Junho, Domingo, entre as 14H00 e as 
15H00, no stand da Chiado Editora. 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

TIAGO MOITA PRESENTE NA 85ª FEIRA DO LIVRO DE LISBOA (14.06.2015)


É oficial: o escritor sanjoanense Tiago Moita vai estar presente na 85ª edição da Feira do Livro de Lisboa, este domnigo, dia 14 de Junho, entre as 14H00 e as 14H55, para dar uma sessão de autógrafos a todos os leitores do seu primeiro romance "O Último Império" (Chiado Editora, 2012).


A notícia vem na sequência de um convite, dirigido ao autor pela Chiado Editora, em estar presente na maior feira do livro de Portugal, para interagir e autografar exemplares do seu romance "O Último Império" (Chiado Editora, 2012).



"O Último Império" é o primeiro romance do escritor Tiago Moita. O primeiro thriller sobre a História Oculta de Portugal e os desafios do mundo no terceiro milénio. Esta obra é também o primeiro thriller sobre o (verdadeiro) significado do Quinto Império e do Regresso de Dom Sebastião a Portugal. Um livro onde grandes figuras da História de Portugal como Dom Afonso Henriques, Camões, Padre António Vieira ou Fernando Pessoa são protagonistas.

Este livro recebeu críticas positivas e rasgados elogios de escritores e autores muito importantes da nossa praça como MIGUEL REAL, MÁRIO CLÁUDIO, LUÍS MIGUEL ROCHA (Autor de renome internacional de livros como "O Último Papa" ou "A Mentira Sagrada"), ALBERTO S.SANTOS (autor dos livros "A Escrava de Córdova" ou "O Segredo de Compostela"), SÓNIA LOURO (Autora do livro "O Cônsul Desobediente" e "Amália - O romance da sua vida") e da professora universitária de Literatura Contemporânea da Universidade do Algarve, escritora e poeta, LUÍSA MONTEIRO.

Há dois anos atrás, este livro chegou ao Brasil e está, desde hoje, à venda nas livrarias "Cultura" e "Saraiva" (A "Saraiva" está para o Brasil como a Bertrand está para Portugal. Com este feito, Tiago Moita acabou por ser o primeiro autor sanjoanense a ter uma obra distribuída no mercado estrangeiro.

Esta é a primeira vez que Tiago Moita estará presente, enquanto autor, na maior feira do livro de Portugal. Para quem quiser conhecer o autor e a sua obra, Tiago Moita estará presente na Zona Nascente 2, Praça Azul, Pavilhões D27, D29, D31, D34, D36 e D38 no Parque Eduardo VII, Lisboa.


Aqui fica o booktrailer oficial do livro "O Último Império" de Tiago Moita (Chiado Editora, 2012)




DÉCIMA TERCEIRA "FUGA POÉTICA" NO NEPTÚLIA BAR EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (16.06.2015)


AVISO À NAVEGAÇÃO.

Depois do grande sucesso que foi a 10ª "Fuga Poética" na Confeitaria "Colmeia" na primeira terça-feira deste mês, as noites poéticas mensais nos cafés e bares de São João da Madeira regressam em força na terça-feira da próxima semana, dia 16 de JUNHO, terceira terça-feira do mês, para a 13ª "FUGA POÉTICA", a partir das 21H30 no Neptúlia Bar em São João da Madeira!

Nesta sessão, tal como aconteceu com na outra, os desafios mantêm-se:
  1. Dizer pelo menos um poema, da vossa autoria ou de um(a) poeta do vosso coração, de cor e salteado nessa sessão.
  2. Dizer um poema sobre PORTUGAL (tema escolhido na sessão poética anterior).
NOTA: Estes desafios são FACULTATIVOS! Aqueles que os aceitarem, aceitam de sua livre e espontânea vontade! Quem aceitar o segundo, terá o primeiro quarto de hora desta sessão para dizer o poema do tema escolhido.

Quem quer participar no desafio?

Venham celebrar a festa da Poesia e soltar os poemas que habitam no silêncio das gavetas e dos livros!

quarta-feira, 10 de junho de 2015

POEMA "PORTUGAL FUTURO" DE RUY BELO


"PORTUGAL FUTURO"

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável.
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz.
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz.
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão.
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro.

RUY BELO
(1933-1978)
"Um Homem de Palavra"
1969

POEMA "PORTUGAL" DE JORGE DE SOUSA BRAGA


"PORTUGAL"

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu
às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos.

Que culpa tive eu que
D.Sebastião fosse combater
os infiéis no norte de África
só porque não podia 
combater a doença que lhe 
atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse.

Quando chego a pensar que é
tudo mentira
que o Infante D.Henrique 
foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira
uma reles imitação do
Príncipe Valente.

Portugal

Não imaginas o tesão que
sinto quando ouço o hino 
nacional

(que os meus egrégios avós
me perdoem)

Ontem estive a jogar Póker
com o Velho do Restelo
Anda na consulta externa do
Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques
e que está a recuperar
aparte do facto de agora me
tentar convencer que nos
espera um futuro de rosas

Portugal

Um dia fechei-me no
Mosteiro de Jerónimos
a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que 
consegui apanhar foi um 
resfriado

Virei a Torre do Tombo do
avesso sem lograr encontrar
um pétala que fosse 
das rosas que Gil Eanes
trouxe do Bojador

Portugal

Se tivesse dinheiro 
comprava um império 
e dava-to
Juro que era capaz de fazer
isso só para te ver sorrir.

Portugal

Vou contar-te uma coisa que
nunca contei a ninguém

Sabes

Estou loucamente
apaixonado por ti.

Pergunto a mim mesmo
como me pude apaixonar
por um velho decrépito e 
idiota como tu
mas que tem o coração doce
ainda mais doce que os
pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos
negros para poder
espremer à minha vontade.

Portugal
Estás a ouvir-me?

Eu nasci em mil novecentos
e cinquenta e sete
Salazar estava no poder

Nada de ressentimentos

O meu irmão esteve na guerra
tenho amigos que emigraram

Nada de ressentimentos

Um dia bebi vinagre

Nada de ressentimentos

Portugal
Depois de ter salvo
inúmeras vezes "Os Lusíadas"
a nado
na Piscina Municipal de Braga
ia agora propôr-te um projecto
eminentemente nacional    

Que fôssemos todos a Ceuta
à procura do olho que
Camões lá deixou

Portugal

Sabes de que cor são os
meus olhos?
São castanhos 
como os da minha mãe.

Portugal

Gostava de te beijar muito 
apaixonadamente

na boca.

JORGE DE SOUSA BRAGA
"De manhã vamos todos acordar com uma pérola no cu."
1981


POEMA "PORTUGAL" DE ALEXANDRE O'NEILL


"PORTUGAL"

Ó Portugal, se fosses apenas três sílabas
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal, 
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses a carrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses apenas três sílabas
de plástico, que era mais barato!

*

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiras da Golegã,
não há "papo-de-anjo que seja do meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para meu devaneio, 
bandarilha que possa enfeitar o meu cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

ALEXANDRE O'NEILL
(1924-1986)
"Feira Cabisbaixa"
1965

    

POEMA "LAMENTO PELA LÍNGUA PORTUGUESA" DE VASCO GRAÇA MOURA"


"LAMENTO PELA LÍNGUA PORTUGUESA"

Não és mais do que as outras, mas és
nossa,
e crescemos em ti. Nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insonssa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.

Mas é o teu país que te destroça
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.

Mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.

Talvez seja o processo e o desnorte
que mostra como é a realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida da cidade.

Mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força de vontade
e tão filosofais melancolias 
nessa escusada busca da verdade, 
e que a ti nos prendesse melhor grade.

Bem que ao longo do tempo
ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais
e entre gentes remotas descobririas
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.

Matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão,
de estranhas novidades, a ciranda
de violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.

E toda a gente o diz, mesmo essa que
anda
por tal degradação tão mais feliz
que o repete por luxo e não comanda,
com o bafo de hienas dos covis,
mais que o vela vã nos ventos panda
cheia do podre cheiro a que tresanda.

Foste memória, música e matriz
de um áspero combate: aprender
a dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações, 
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.

Agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.

De assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam 
triunfantes
na raiva e na oração, no amor, no grito,
de desespero, mas foi noutro atrito
que tu partiste nas tuas próprias jantes
nos estradões da história: estava escrito
que iam desconjuntar-te os teus falantes
na terra em que nasceste, eu acredito
que te fizeram avaria grossa.

Não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. Nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
por-te incolor, inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
Enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.

Mas com o que te resta me iluminas.

VASCO GRAÇA MOURA
(1942-2014)
"Antologia dos Sessenta Anos"

segunda-feira, 8 de junho de 2015

SOBRE A DÉCIMA "FUGA POÉTICA" NA CONFEITARIA "COLMEIA" EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (02.06.2015)

"FUGAS POÉTICAS: UM ANO AO SERVIÇO DA POESIA EM SÃO JOÃO DA MADEIRA (II)"

Faltavam apenas cinco minutos. O tempo não apresentava sinais de mau humor. O vento estava mavioso, assim como aquela noite de 2 de Junho, terça-feira, pelas 21H30, na Confeitaria "Colmeia" em São João da Madeira. Mal cheguei ao local da décima "Fuga Poética" mensal - e primeiro aniversário deste evento naquele estabelecimento - pressenti uma diminuta afluência que, como passar das horas não passou de uma miragem, de uma ponta à outra da confeitariam encontrei pessoas vindas de cidades da zona do Grande Porto e alguns concelhos vizinhos que afluíram naquela noite àquela sessão poética especial com caras novas a fim de conhecerem a cidade e sentirem de perto a vitalidade e espírito de abertura e partilha que têm transformado as "Fugas Poéticas" num fenómeno local.

Dez minutos depois de ter chegado, o coordenador Tiago Moita abriu a sessão, dando as boas-vindas a todos os presentes, especialmente os estreantes, e abriu as hostes com um poema alusivo ao tema (facultativo) do mês de Junho paras as "Fugas Poéticas": Portugal. Neste caso, o poema "Portugal" de Alexandre O'Neill. E as reacções não se fizeram esperar.

Tal como crianças ansiosas por responder a perguntas simples, um a um, os tertulianos começaram a dar voz aos poemas que trouxeram de casa - ou na memória - e a fazer circular por todo aquele estabelecimento a Poesia de Alexandre O'Neill, Miguel Torga, Pablo Picasso (Sim!É verdade! Além de pintar, Pablo Picasso também escrever a Poesia), Fernando Campos Castro, Oswaldo Montenegro, Nelson Ferraz, Pedro Chagas Freitas, Vasco Graça Moura, Luís de Aguiar, Mário de Sá-Carneiro, Alberto Caeiro, Maria do Rosário Pedreira, António Carlos Santos, Cely Parente, Sara F.Costa, Fernando Pessoa, José Régio, Ruy Belo, Florbela Espanca, Carlos Lacerda, João de Deus, Luana Lua, Maria Teresa Horta, Rabindranath Tagore, João Habitualmente, David Mourão-Ferreira e Agostinho da Silva, entre alguns textos e poemas de poetas locais e desconhecidos, onde a música - desde a mais popular até à mais clássica - complementou e adocicou, juntamente com o (suculento) bolo de aniversário de uma iniciativa que, findos doze largos e intensos meses de vida, demonstrou que continua viva e com pernas para andar durante muito tempo,

PRÓXIMA PARAGEM: Neptúlia Bar, 16 de Junho, terça-feira da próxima semana, 21H30.

Aqui ficam as fotos do evento.


Tiago Moita iniciando a 10ª "Fuga Poética" mensal na Confeitaria
"Colmeia" em São João da Madeira.

(Foto de Virgílio Gonçalves)


Parte do público presente na sessão.


David Morais Cardoso lendo o poema "Retrato"
do célebre pintor Pablo Picasso.


Rogério Barbosa - um estreante nas "Fugas Poéticas"
em São João da Madeira - lendo o poema "No tempo
das flores" de Fernando Campos Castro.


A poeta Alice Queiroz - uma estreante nas "Fugas 
Poéticas" em São João da Madeira - lendo um poema
da sua autoria: "Eu sou português aqui".


Luís Quintino lendo o poema "Rosa" de Alexandre
O'Neill. 


O poeta Carlos Lacerda - um estreante nas "Fugas
Poéticas" em São João da Madeira - lendo o poema
"Metade" de Oswaldo Montenegro.


Outra parte do público presente na sessão.


Clara Oliveira lendo o poema "Passadiço" 
de Nelson Ferraz.


Fábio Silva dizendo um poema da sua autoria.


A poeta Luana Lua - uma estreante nas "Fugas
Poéticas" em São João da Madeira - lendo um 
texto do livro "Prometo Falhar" de Pedro Chagas
Freitas (Marcador, 2014)


O músico Rui Flash cantando a canção "Porto
Sentido" de Rui Veloso.(Também cantou o célebre
fado de Carlos do Carmo, com letra de José Carlos
Ary dos Santos, "Lisboa, menina e moça")


O poeta Luís de Aguiar - um estreante nas "Fugas 
Poéticas" em São João da Madeira - lendo um dos 
três poemas da sua autoria que leu naquela noite.


Tiago Moita lendo o poema "Lamento da Língua Portuguesa" de 
Vasco Graça Moura.

(Foto de Virgílio Gonçalves)


Amílcar Bastos lendo o poema "Recreio" de Mário de
Sá-Carneiro (Também leu um soneto do século XVII)


Raquel Sousa - uma estreante nas "Fugas Poéticas"
em São João da Madeira - lendo o poema "Não tenho
pressa" de um dos mais célebres heterónimos de 
Fernando Pessoa: Alberto Caeiro.


Idiema Salgueiro lendo o poema "Quando eu morrer"
de Maria do Rosário Pedreira.


Sãozita Alves lendo o poema "Na terra dos sonhos"
de António Carlos Santos.


Maria de Fátima Passos lendo o poema "Portugal"
de Cely Parente.


Tiago Moita lendo o poema "Pais (I)"
de Sara F. Costa.

(Foto de Sebastião Oliveira)


o Doutor Ângelo Alberto Campelo Sousa dizendo
o poema "Nevoeiro" da epopeia "Mensagem"
de Fernando Pessoa.


Elídio Bessa - um estreante nas "Fugas Poéticas"
em São João da Madeira - dizendo o célebre
poema "Cântico Negro" de José Régio.


Vânia Soares lendo o poema "No teu olhar" de
Florbela Espanca.


Sebastião Oliveira - um estreante nas "Fugas 
Poéticas" em São João da Madeira - lendo
um poema de Alice Queiroz.


Fernanda Guimarães - uma estreante nas "Fugas
Poéticas" em São João da Madeira - lendo um 
poema de Carlos Lacerda.


Carlos Pinho lendo o poema "A vida" de João de Deus.


A poeta Aurora Gaia - uma estreia nas "Fugas Poéticas"
em São João da Madeira - lendo o poema "Saudade"
de Luana Lua.


Tiago Moita partindo o bolo do (1º) aniversário das "Fugas Poéticas"
(na Confeitaria "Colmeia") em São João da Madeira.


Eduardo Belinha cantando uma célebre canção
popular chilena: "Gracias à la vida".


Tavares Ribeiro lendo um poema da sua autoria, 
seguido de um poema de Maria Teresa Horta.


Virgílio Gonçalves lendo o poema "Identidade" de 
Fernando Campos Castro.


Jorge Madureira lendo um poema da sua autoria.


O doutor Ângelo Alberto Campelo Sousa dizendo
o poema "O Monstrengo" da célebre epopeia de
Fernando Pessoa "Mensagem".


André de Oliveira lendo o poema "Terra" de 
Rabindranath Tagore.


Eduardo Belinha cantando uma das duas canções
da sua autoria, seguido de uma célebre ária de
Eurico Caruso. 


O público que assistiu à (brilhante) performance musical de 
Eduardo Belinha, no final da sessão.


Virgílio Gonçalves - um dos "fotógrafos de serviço"
naquela noite.


(grande) parte do público presente no final da sessão.