segunda-feira, 1 de maio de 2017

A PRIMEIRA CRÍTICA LITERÁRIA AO "METANOIA"- CARLA RIBEIRO (BLOG "AS LEITURAS DO CORVO" - 29.04.2017)


O terceiro livro de Poesia de Tiago Moita "Metanoia" (Chiado Editora, 2017) comentado no blog "As Leituras do Corvo" de Carla Ribeiro. 

Muito obrigado Carla.

Tiago Moita.

"Vidas para além da presente e um passado que parece perpetuar-se nas evocações do sonho. E palavras, palavras que querem ser poema e que parecem moldar-se ao ritmo de um quase misticismo. São estes os elementos base deste conjunto de poemas que, unidos num todo coeso, mas em que cada parte é também ela uma unidade, dão forma a uma viagem através da mente e dos seus labirintos.

Não é fácil falar sobre este livro sem desvendar demasiados dos seus mistérios. Breve no conjunto e nas unidades que o compõem, é um livro onde a simplicidade aparente dá lugar ao que parece ser uma vasta viagem mística pelos meandros dos sonhos. E o mais interessante é que, sem grandes imposições de ritmo ou métrica, quase que deixando as palavras falarem por si mesmas, o autor consegue conferir aos poemas uma fluidez estranhamente cativante. 

Fluidez esta que parece ajustar-se na perfeição às imagens que evoca, como que de um transe onírico em que o mundo se desdobra em múltiplas realidades. E é aqui que entra o misticismo, pois as referências a conceitos esotéricos estão bem presentes em quase todos os poemas. Referências estas que realçam um outro contraste: o da vontade de introduzir estes elementos com a naturalidade com que os apresenta, sem que o poema se torne demasiado rebuscado ou perca a simplicidade natural. 

E tudo isto converge num equilíbrio maior. A simplicidade da forma, a estranheza das imagens evocadas, a forma como tudo parece natural, mesmo quando o cenário é, no mínimo peculiar. E, claro, a forma como parece haver um elo comum entre todos os poemas, sem que, por isso, eles se tornem repetitivos. Como se cada poema fosse um objecto individual e completo, mas todos formassem a trama do estranho mundo a que pertencem. 

No fim, fica uma imagem de contrastes: de um todo feito de múltiplas pequenas partes, em que cada uma evoca um cenário único e intransmissível. De uma viagem por tempos e mundos - interiores e exteriores, presentes, passados e futuros. E, acima de tudo, do equilíbrio entre a vastidão do todo e a simplicidade das pequenas coisas. Um todo em que tudo cativa e nada parece estranho - por mais distantes da realidade quotidiana que estes mundos interiores pareçam estar. Muito bom." 

Carla Ribeiro
Blog Literário "As Leituras do Corvo"
28.04.2017

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