segunda-feira, 10 de julho de 2017

POEMA "METADE" DE OSWALDO MONTENEGRO


"METADE"

Que a força do medo que eu tenho 
não me impeça de ver o que eu anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço de longe,
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor ,
apenas respeitadas, 
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz 
que eu mereço.
E que essa tensão 
que me corrói por dentro 
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu
penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto, 
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso 
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio 
me fale cada vez mais 
Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta, 
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é plateia 
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor
e a outra metade...
também.

OSWALDO MONTENEGRO




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