sexta-feira, 22 de maio de 2020

ODE AO AUTOR (Tiago Moita)


ODE AO AUTOR 

Sentado à varanda do mundo que o despreza
revolvendo o seu silêncio
com os dedos calejados pela vertigem
e os olhos rubros e cansados de tanto existir,
está o autor, nu, 
explodindo quatro rosas brancas com a mente,
sorvendo o húmus da terra com o corpo
e o éter da vida com o coração.

O autor é uma tempestade cega sem aviso
em paraísos de vidro e pedra,
voz indomável de um grito exíguo por brotar 
de uma página em branco,
gota de água num inferno
tecido à força pela mão cega do Homem.

O autor é um fósforo aceso na noite 
pela vontade esdrúxula de um deus menor
e a sombra do grito mudo de um espelho 
reflectindo as feridas primárias 
de uma sede infinita.

O autor é uma biblioteca itinerante
num deserto de máscaras,
tradutor fiel de incêndios por lavrar
durante a embriaguez do sono.

Enquanto escreve, o autor salga um verbo
e transforma-o num adjectivo,
um adjectivo que sulca o vento e abre caminhos, 
ganha raízes no cérebro
até se transformar num substantivo,
cheio de espuma e suor, sémen e sangue
e vinho a escorrer-lhe pela boca.

O autor está para a escrita 
como o sal está para o fogo,
estala e vibra como um astro, 
decifra os sentidos das quedas num voo
e não descansa o corpo
enquanto este não se fundir com o sol.

Tudo isto e muito mais é o autor
no seu estado mais puro, inteiro e limpo,
testemunha viva de epopeias e quedas,
cronista solitário de ecos sem voz
que faz do tempo uma curva
em vez de um segmento de recta.

Tiago Moita.
22.05.2020

Feliz dia mundial do autor.

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quarta-feira, 20 de maio de 2020

HÁ SEIS ANOS ATRÁS NASCERAM AS "FUGAS" (2014-2020)


Tiago Moita


Edmundo Silva

HÁ SEIS ANOS ATRÁS NASCERAM AS "FUGAS"!

Foi numa terça-feira enevoada mas inesquecível. Quem esteve presente naquele dia 20 de Maio de 2014, no Neptúlia Bar em São João da Madeira, não assistiu a um evento qualquer mas a um acontecimento histórico. Foi precisamente nesse dia e naquele lugar que eu e o Edmundo Silva fundámos as famosas FUGAS POÉTICAS (No Neptúlia, tiveram o nome de "Poesia à Solta" e na Confeitaria "Colmeia" "Um café com...Poesia" até 2015).

A partir dessa data até hoje, as "Fugas" fizeram o impossível: arranjaram um bom motivo para muitas pessoas saírem de casas e celebrarem a Poesia todos os meses, ouviram-se poemas de poetas clássicos e contemporâneos, revelaram-se alguns novos poetas e escritores, misturou-se Poesia com música e até Teatro, conheceram-se pessoas novas, que certamente nunca teriam se conhecido se não existisse esta iniciativa e democratizou-se (ainda mais) o acesso e a divulgação da Poesia em São João da Madeira mais que o "Poesia à Mesa" ou outro evento de igual natureza.

Apesar das restrições causadas por este pandemia, não quero deixar de celebrar esta bonita efeméride e agradecer a todas as pessoas que nos ajudaram a tornar possível este sonho, especialmente todos aqueles que o continuaram, depois da nossa saída como a Angelo Alberto Campelo Sousa, Raquel Gomes de Pinho, Inês Severino, Isabel Barbosa, Luís Quintino, Lena França, M Conceicao Gomes, Flor Yaleo, Antonio Pinheiro Pinheiro Irene Guimarães, Adelaide Gonçalves e Casimiro António Fernandes, bem como a todas as pessoas que participaram nelas ao longo destes anos.

Viva a Poesia e vivam as "Fugas"! Seis anos a soltar a Poesia em São João da Madeira

Tiago Moita.

(As fotos são da cortesia de Maria Clara Carvalho)

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