quarta-feira, 28 de setembro de 2016

SEGUNDO DOS TRÊS EXCERTOS DO NOVO ROMANCE DE TIAGO MOITA "O EVANGELHO DO ALQUIMISTA" (CHIADO EDITORA, 2016)

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"O tempo nem sempre está a favor de quem atravessa infernos, sejam eles terrenos ou de outra dimensão. Havia passado três dias desde que o Alquimista partira do acampamento, sem se despedir dos seus discípulos. O profeta parecia um minúsculo ponto negro ambulante, no meio daquela violenta tempestade de areia no Grande Deserto. Apesar de estar de rosto tapado e coberto por enorme manto branco, o profeta apresentava alguns sinais de fraqueza, devido à ira do vento, misturado com a areia e o pó. Perdera a contagem do número de vezes que claudicara, devido à sede e à fome. A água do cantil era já uma miragem, como um o horizonte, no meio daquela tormenta. A língua e a boca daquele homem estavam agora tão secas como o resto do corpo. Caiu.

Minutos depois da queda, a tempestade dissipou-se como por magia, e o dia deu lugar à noite. Atordoado e bastante enfraquecido, o Alquimista - rosto e mãos besuntados de areia e pó - soergueu-se sem perder a lucidez. O fim repentino daquela tempestade não fora obra da natureza, nem do universo, e muito menos do acaso - algo que nunca acreditava."

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Tiago Moita
"O Evangelho do Alquimista"
Colecção "Viagens na Ficção"
Chiado Editora
2016


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