Os meus nervos são fissuras
de castanho poente à luz
a luz come-se com jangadas de tristeza
nas madrugadas esfomeadas
e a noite foi feita para partir
os espelhos
e os esconderijos são abutres pintados
com sal
ardem sonhos de volúpia
nos vídeos esborrachados de sangue
os crânios quebrados com dinamite
e espadas cortando a nossa carne
no pescoço
explodem
e explodem navios imberbes
com cascos naufragados das ilusões
desvios crustáceos de sono
tombados na funesta neblina das marés
náuseas revolteando nas almas
almas com náuseas revolvidas com tambores
e sal misturado com areia nas praias
as árvores são bosques antigos onde não nos
encontramos
deixem correr o mar deixem
deixem os pedaços do tempo embater em icebergues
deixem os cascos com barcos altos de fumo
enfumar-se na distante selva da orla
porque nós nada disto somos
ossadas compõem nossas paredes gastas
na arruaçada
e somos fragilidades empastadas
de lagoas secas no interstício
bate nas estradas velocissimamente
enlutado bate
bate raspando as lápides
do destino bate
porque a existência um dia te murmurará:
parte para onde as lágrimas desvelem
parte para onde o mundo se intercepte de vestidos
porque o sol cai nas vielas com frio
e nós tombamos cuspidos pela tísica foice
da salvação
abramos o vestido.
Carlos Filipe Vinagre
"Moluscos de Mântua" (Incomunidade, 2009)
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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