PROMESSA
Um dia julgaremos de olhos fechados
sem pedras na boca nem lágrimas nos dedos
quem nos tentou ferir e ignorar
como se fôssemos uma praga desconhecida
do umbigo do mundo
Soltar a voz que nos guia
como quem mastiga o silêncio
de uma página em branco
abraçar o presente que nos rejeita
como quem beija pela última vez
a vida entre dois tempos
Fazer da nossa aura índigo
farol da humanidade
burilar a luz sem palavras
recorrendo ao sangue do verbo
que fez parir o universo
Marcharemos sobre cidades mudas
fantasmas em ruínas e naturezas mortas
como serpentes de fogo
em florestas virgens
com corações em flor
como espadas
e o terceiro olho
como bússola
Por onde passarmos
expiaremos sombras de espelhos
derrubaremos muros e montanhas cinzentas
queimaremos as últimas películas fotos
quadros partituras e poemas gastos
pela usura da idade
de fotocópias baratas de grandes génios
numa chama violeta
E então...
Celebraremos a morte do sono
com uma lua lavrada no rosto
e uma visão oblíqua do homem no mundo
tempo terá o fulgor de um poema
e Ser ou Não Ser será uma certeza
e nunca mais uma questão
de perspectiva.
Tiago Moita
"Post Mortem e Outros Uivos"
WorldArtFriends/Corpos Editora
Porto, 2012
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