PALAVRAS, ACTOS
A ironia ensina a sabotar uma frase
como se faz a um motor de automóvel
se retirares uma peça a máquina não anda, se mexeres
no verbo ou numa letra do substantivo
a frase trágica torna-se divertida,
e a divertida, trágica.
Este quase instinto de rasteirar as frases proteger-me,
desde novo, daquilo que ainda hoje receio: transformar
a linguagem num Deus que salve, e cada frase num anjo
portador da verdade. Tirar seriedade ao acto da escrita
aprendi-o na infância, tirar seriedade aos actos da vida
comecei a aprender apenas depois de sair dela, e espero
envelhecer aperfeiçoando esta desilusão.
Gonçalo M.Tavares
"1"
Relógio de Água
2004
GONÇALO M.TAVARES, mais conhecido como Gonçalo M.Tavares, nasceu em Luanda em Agosto de 1970. Recebeu os mais importantes prémios em língua portuguesa: o Portugal Telecom (2007); o Prémio José Saramago (2005) e o Prémio Ler/Millenium BCP 2004 com o romance "Jerusalém" (Caminho); O prémio Branquinho da Fonseca da Fundação Calouste Gulbenkian e do Jornal Expresso, com o livro "O Senhor Valéry" (Caminho); O prémio Revelação de Poesia da Associação de Escritores com "Investigações.Novalis" (Difel) e o Grande Prémio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores Camilo Castelo Branco com "Água, Cão, Cavalo, Cabeça" (Caminho).
Os seus livros deram origem a peças de teatro, objectos artísticos, vídeos de arte, ópera, etc. Estão em curso cerca de duzentas e vinte traduções distribuídas por quarenta e cinco países.
O Romance "Jerusalém" foi incluído na edição europeia de "1001 livros para ler antes de morrer - um guia cronológico dos mais importantes romances de todos os tempos".
Acumula as funções de escritor e de professor universitário.
OBRAS POÉTICAS PUBLICADAS
- "1" (Poesia, Relógio de Água, 2004)
- "Investigações.Novalis" (Difel, 2002)
Sem comentários:
Enviar um comentário