domingo, 9 de março de 2014

POETAS CONTEMPORÂNEOS DO SÉCULO XXI: JOÃO NEGREIROS


O TEMPO ÉS TU A PASSAR

semanas passam como tu
a espera conta-se pelos dedos 
dos palmos que te vão dar

há arranha-céus que esgravataram a terra 
para interceder por mim
e tu nem assim foste ao túnel comigo

comi a fruta mais áspera
contraí um cancro com o seu caroço
 para que fosse sã
e tu lambeste toda a sobremesa
 como se eu não tivesse direito 
ao que sobrou da solidão

semanas passam como tu
não dás fé do meu rosário e     no fascínio que por mim vai    chapinhaste um
espelho de poças
podiam ser uma interjeição mas em vez disso são água

sou o espelho turvo que te dá em troca
perdeste importância do amor-próprio
por não perceberes que só somos 
o que os outros amam

semanas passam como tu
o tempo és tu a passar.

De O Amor és tu.

JOÃO NEGREIROS nasceu em Matosinhos a 23 de Novembro de 1976. Foi o primeiro classificado no Prémio Internacional OFFLIP de Literatura (Brasil, 2009). 

Em Portugal, entre outros prémios, João Negreiros venceu o Prémio Nuno Júdice. Na área do Teatro, a sua obra foi crescendo, tendo hoje várias peças editadas "Silêncio" e "Os Vendilhões do Templo" (2007); "O segundo do fim" e "Os de sempre" (2008). 

No âmbito da poesia, publicou três livros: "O Cheiro da sombra das flores" (2007, Papiro Editora), seleccionado de entre as melhores obras de poesia ibérica publicadas entre 2007 e 2008 pelo Prémio Correntes D'Escrita de 2009; "Luto Lento" (2008, Papiro Editora) e "A Verdade dói mas pode estar errada" (2010, Camões e Companhia).

Em 2010, é editado o seu primeiro livro de prosa "O mar que a gente faz" e, em 2012, "O Sol Morreu aqui" - este último, vencedor do Prémio Literário Dias de Melo.

Para além de escritor, João Negreiros é actor e tem divulgado a poesia nacional através de espectáculos e vídeos de spoken word. Em 2011, o artista foi representante da Literatura Portuguesa na 7ª Edição do conceituado Festival Internacional das Artes de Castela e Leão.

OBRAS POÉTICAS PUBLICADAS:
  • "O Amor és tu" (Saída de Emergência, 2012)
  • "A Verdade dói mas pode estar errada" (Camões e Companhia, 2010)
  • "Luto lento" (Papiro Editora, 2008)
  • "O cheiro da sombra das flores" (Papiro Editora, 2007)

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