A INEBRIANTE BELEZA DO INESPERADO
Uma das coisas que mais tenho registado em todas as noites poéticas que tenho coordenado, assistido e participado nestes últimos seis meses é o efeito surpresa. Aquela sensação de imprevisto que nos assalta e nos obriga a despertar para novas dimensões da realidade, a frenética inquietude do abrupto em contacto com o imediato, a libidinosa sensação de surpresa entre a expectativa e o assombro, que não deixa ninguém indiferente, muito menos todas as pessoas que assistiram e participaram na sexta sessão poética mensal "POESIA À SOLTA" de ontem ,dia 18 de Novembro, pelas 21H30, no Neptúlia Bar em São João da Madeira.
O tempo e a hora não eram os mais propícios para ambientes devotos à Poesia. O céu ameaçava com o seu mau humor e, para alguns espíritos mais adormecidos, o jogo particular de futebol entre a nossa selecção e a selecção da Argentina demonstrava mais interesse que uma saída à noite para assistir e participar numa sessão de poesia livre e vadia, como tem acontecido no Neptúlia Bar, todas as terceiras terças-feiras de cada mês.
Todavia, a surpresa não hesitou de tomar de assalto aquela noite de homenagem à Poesia e à palavra dita. Mal Tiago Moita saudou os presentes e abriu as hostilidades poéticas com o poema "Os canos das Espingardas", da sua autoria, o inesperado não se fez esperar: Ainda a sessão não tinha chegado ao seu primeiro quarto de hora quando todos os presentes foram apanhados de surpresa com um telefonema do doutor Luís Quintino - um dos nossos mais entusiastas e melhores diseures das noites poéticas nos cafés e bares de São João da Madeira - directamente de Lisboa, apenas para dizer o poema "Ilusão" de David Mourão-Ferreira (!). Tinha acabado de ser inaugurada a primeira recitação poética à distância em São João da Madeira.
E as surpresas não ficaram por aqui! Quando toda a gente julgara que a sessão ia prosseguir o seu ritmo regular, eis quando o doutor Magalhães dos Santos, acompanhado pelo Dr. Flores Santos Leite e pelo Dr. Francisco Costa, presenteou-nos com uma encenação teatral da célebre peça de Júlio Dantas "A Ceia dos Cardeais" - uma encenação amadora (bastante) bem representada que mereceu uma vibrante ovação por parte do público presente. Depois da primeira recitação poética à distância, as noites poéticas nos cafés e bares de São João da Madeira assistiram à sua primeira peça de Teatro.
A partir desse ponto, a Poesia circulou pelos corações e gargantas de todos aqueles que quiseram prestar-lhe homenagem e devoção. Falou-se da Paz através da poesia de Tiago Moita, Sophia de Mello Breyner Andresen, Natália Correia e António Nobre; o amor e o desamor de Cidália Moreira (o primeiro "fado declamado" nas noites poéticas), Florbela Espanca, Pablo Neruda, Alfonsina Storni, (estes últimos lidos, pela primeira vez, em castelhano), Tagore e António Ramos Rosa; a ironia ácida e sarcástica de Reinaldo Ferreira e a sua receita para fazer um herói; a crítica ao dinheiro de João de Deus; a urgência na poesia de João Apolinário; a Liberdade segundo Khalil Gibran; a exaltação do Todo na poesia de Edmundo Silva e Suzamna Hezequiel; o drama, a beleza e o épico na poesia de Pessoa, Camões, Garrett, Afonso Lopes Vieira e António Gedeão e a Vida, segundo Tagore, onde não faltaram quadras alusivas a efemérides passadas e amores (sempre) presentes, assim como homenagens sentidas - e mais do que merecidas - a Manoel de Barros, Joana Serrado e Sara F.Costa - esta última, congratulada pela sua primeira década de carreira literária ao serviço da Poesia.
Tudo, ou quase tudo aquilo que se fez naquela noite, deixou cada alma ali presente com um sorriso nos lábios e uma lágrima de saudade para mais um serão onde os poemas saíram dos livros das bibliotecas e livrarias, libertaram-se do silêncio das gavetas e deram voz à mais bela expressão da condição humana que torna inebriante a beleza do inesperado que é a Poesia.
Próxima sessão: "UM CAFÉ COM...POESIA" - 5ª Edição. Dia 02.12.2014, a partir das 21H30-
Próxima paragem: Confeitaria Colmeia.
Conto convosco!
Aqui ficam as fotos do evento:
A professora Isabel Barbosa lendo o poema
"A paz sem vencedores nem vencidos" de
Sophia de Mello Breyner Andresen
Parte do público presente na sexta sessão do "Poesia à Solta"
Carlos Pinho lendo "Ode à Paz" de Natália Correia
O momento em que se escutou o Dr. Luís Quintino
a dizer o poema "Ilusão" de David Mourão-Ferreira
a partir de Lisboa, via telefónica.
O doutor Magalhães dos Santos lendo umas
quadras de São Martinho
A poeta sanjoanense Dina Silvério
lendo um poema da sua autoria
O Dr. Flores Santos Leite lendo um das suas quadras
André de Oliveira lendo um poema do poeta
sanjoanense Edmundo Silva
Raquel Gomes de Pinho lendo um poema
O Dr. Francisco Costa dizendo o primeiro canto
de "Os Lusíadas" de Luís Vaz de Camões
O doutor Ângelo Campelo na sua (apoteótica)
declamação do "Menino de sua Mãe"
de Fernando Pessoa.
O doutor Magalhães dos Santos lendo um poema
da poeta argentina Alfonsina Storni em castelhano.
Da Esquerda para a direita: Dr. Francisco Costa, Dr. Flores Santos
Leite e o doutor Magalhães dos Santos - os protaginistas da
encenação da célebre peça "A Ceia dos Cardeais"
de Júlio Dantas
Bárbara Soares lendo o poema "Amar"
de Florbela Espanca
André de Oliveira lendo o poema"Tu e Eu"
de Tagore
Inês Severino lendo o poema "Ode Louca"
de Filipa Leal
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