NATAL COM MENSAGEM
Melhor do que aconteceu naquela noite fria de terça-feira, 2 de Dezembro, pelas 21H30 na Confeitaria colmeia em São João da Madeira seria quase impossível. Era a quinta sessão de Poesia e tanto a expectativa como a vontade circulavam de mão dada com a Poesia, por entre os silêncios das mentes e dos corações de todas aquelas almas, como se fosse a primeira vez.
Nem o frio aziago nem o cansaço de mais um dia de trabalho não demoveram os espíritos mais inconformados em querer ouvir e partilhar a mais nobre das artes. Por volta das 22H00, cerca de trinta almas diziam "presente" a mais celebração poética na Confeitaria Colmeia, no coração da Praça Luís Ribeiro. Em poucos minutos, as conversas, as trocas de olhares bem como o barulho das máquinas de café iam se transformando em sussurros até acabarem num silêncio celestino, igual à melodia dos cantos mais recônditos e belos do universo, para iniciar o tradicional ritual de abertura e invocação à Poesia.
Na sessão anterior tinha sido proposto um tema mensal para a leitura - ou declamação, expressão - dos primeiros poemas daquela sessão. Natal tinha sido o tema proposto - e apropriado, dada a estação e espírito festivo em que todo o mundo se encontra (sempre) neste mês. E as respostas não se fizeram esperar. Depois dos coordenadores e mentores das noites poéticas nos cafés e bares de São João da Madeira, Tiago Moita e Edmundo Silva, abrirem a noite com a leitura conjunta do poema "Falava-me de Amor" de Natália Correia, juntaram-se ao natalício repto mais de uma dezena de poemas de Natal de poetas tão diferentes em tempo e estilo como José Carlos Ary dos Santos, Vitorino Nemésio, António Gedeão (alvo de uma declamação flamejante e épica), Manuel Bandeira, David Mourão- Ferreira, Jorge de Sena e Miguel Torga, onde até poemas de poetas locais sobre a quadra natalícia homenageada se juntaram à tertúlia.
De seguida, passou-se para um momento de poesia livre (como se a poesia já não o fosse...). Navegou-se pelas palavras do "Navio de Espelhos de Mário de Cesariny, saborearam-se sonetos alimentícios de Vinícius de Moraes e de Vasco Graça Moura, escutou-se a voz do "Cântico Negro" de José Régio, emudeceram-se os rostos com o "Poema à Mãe" de Eugénio de Andrade, surpreendemo-nos com a entrada de um "Poema Invasivo" de João Henriques, inspiramos a noção de amor de Jorge Palma e reflectimos sobre o sentido da Poesia de Márcia Passos, numa sessão onde foram homenageadas figuras da terra e nem o humor faltou para desinibir e alegrar as mentes mais anestesiadas e estafadas pelo ritmo frenético da espuma dos dias.
Não foi só o Natal que foi alvo de homenagem naquela noite. Sob proposta de um dos coordenadores e mentores do projecto, a quinta sessão "Um Café com...Poesia" homenageou os oitenta anos da publicação da "Mensagem" de Fernando Pessoa - a única obra literária que o nosso maior poeta e génio da língua portuguesa viu galardoada e publicada em vida. Apesar de escassas participações, uma das mais emblemáticas obras da literatura e da língua portuguesa não passou despercebida: foi alvo de uma breve dissertação sobre o seu sentido e significado - como se, por instantes, estivéssemos todos a assistir a uma aula de literatura informal - e de leituras flamejantes e apoteóticas que até fizeram corar o rosto dos deuses e apagar a luz das estrelas de inveja.
Como nem só de homenagens vive uma tertúlia, também a surpresa entrou sem aviso prévio naquele espaço. Sem que ninguém contasse, Tiago Moita e Edmundo Silva leram, pela primeira vez, um poema dos seus mais recentes poemários ("Homo Noeticus" de Tiago Moita e "Pó das Estrelas" de Edmundo Silva) como se fossem um só, utilizando o resto da confeitaria como palco, em íntimo contacto com todas as pessoas presentes naquela sessão. E como não um dueto sem dois, uma jovem juntou-se a um dos coordenadores e leu com ele "Murmúrios do Mar" do Padre (e poeta) José Tolentino Mendonça. Momentos altos de júbilo e congratulação na mente e nos corações de todos aqueles que assistiram - e, principalmente, participaram - numa tertúlia que rivalizou com o brilho das estrelas que bordam os tectos do Universo.
Regressamos daqui a quinze dias, no dia 16 de Dezembro, terça-feira, ao Neptúlia Bar, para mais um "Poesia à Solta", a partir das 21H30.
Conto convosco!
Aqui ficam as fotos do evento.
Parte do público presente na sessão
Outra parte do público presente na sessão
O Dr. Flores Santos Leite e o Dr. Francisco Costa
lendo o poema "Poesia ao nascer do dia" de
José Carlos Ary dos Santos
Carlos Pinho lendo um poema sobre o Natal
de um poeta desconhecido
O poeta sanjoanense António Manuel Silva lendo
um poema da sua autoria sobre o Natal
O doutor Ângelo Campelo recitando
"Dia de Natal" de António Gedeão
(Foi também o responsável pela
breve dissertação sobre Fernando
Pessoa e a sua obra "Mensagem",
assim como pela (apoteótica)
declamação dos poemas "O Infante"
e "O Monstrengo" - ambos da
"Mensagem" de Fernando Pessoa)
O senhor Amílcar Bastos lendo o poema
"Versos de Natal" de Manuel Bandeira
O Dr. Francisco Costa lendo "Natal"
de Manuel Bandeira
O doutor Magalhães dos Santos lendo um dos seus
poemas de Natal
O doutor Luís Quintino lendo "Elegia de Natal"
de David Mourão-Ferreira
A professora Maria Teresa Stanislau lendo
o poema "Natal de 1971" de Jorge de Sena
Tiago Moita - um dos escritores e poeta, mentores e coordenadores
das noites poéticas nos cafés e bares de São João da Madeira, a par
do seu colega, escritor e poeta, Edmundo Silva - lendo
"O Navio de Espelhos" de Mário de Cesariny
(Foto de M Conceição Gomes)
Uma estreia nas noites poéticas em
São João da Madeira: M Conceição Gomes
(de Lourosa) lendo "Poema à Mãe" de
Eugénio de Andrade
André de Oliveira lendo o "Poema Invasivo"
de João Henriques
Jorge Martins lendo "Os Paraísos Artificiais"
de Jorge de Sena
O poeta sanjoanense António Manuel Silva
lendo um poema de homenagem ao
Padre Moura Aguiar, da sua autoria
Tiago Moita lendo o poema "Homo Noeticus", extraído
do seu segundo livro de poesia
"Post Mortem e Outros Uivos"
(WorldArtFriends/Corpos Editora, 2012)
em sintonia poética com
Edmundo Silva
(Foto de M Conceição Gomes)
Edmundo Silva lendo o poema "Pó das Estrelas",
extraído do seu primeiro livro de poesia
"Epifania ao Sol"
(WorldArtfriends/Corpos Editora, 2012)
em sintonia poética com Tiago Moita
(Foto de M Conceição Gomes)
Inês Severino lendo "O Meu Amor"
de Jorge Palma
(participou num dueto poético com Tiago Moita
na leitura do poema "Murmúrios do Mar"
de José Tolentino Mendonça)
Vânia Soares lendo o "Cântico Negro"
de José Régio
Um exemplar da obra "Mensagem" de Fernando
Pessoa: a obra homenageada nesta sessão
M Conceição Gomes lendo um poema
da "Mensagem" de Fernando Pessoa
André de Oliveira lendo "Livre-Arbítrio" do
segundo livro de poesia "Post Mortem e Outros Uivos"
(WorldArtFriends/Corpos Editora, 2012)
de Tiago Moita
Dueto poético entre Tiago Moita e Inês Severino. Ambos leram
"Murmúrios do Mar" de José Tolentino Mendonça
(Foto de Maria Clara Carvalho)
Edmundo Silva - um dos mentores e coordenadores
das noites poéticas nos cafés e bares
de São João da Madeira, a par de Tiago Moita -
lendo o poema "Dos nossos Mundos"
de Isabel Rosete
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