Porque buscamos no quotidiano uma estrada onde se repita o amor e a casa de algum Verão. Porque a memória tem sinais de trânsito e às vezes falamos muito e alto quando está vermelho para recordar, e chamamos os amigos e de repente fica amarelo sem sabermos como, e no fim do dia, quando nos deitamos, cai o verde e tudo avança e as recordações são em vez do sono, são em vez da vida, são em vez do verbo. Porque também nós temos montanhas e rios assinalados e também em nós há itinerários principais e secundários e ruas que vão da cabeça aos pés quando a mão desejada nos percorre como carro de brincar. Porque também nós desejamos um novo aeroporto onde pousar a cabeça, ou pelo menos algumas obras no aeroporto onde desajeitadamente procuramos aterrar. Porque mesmo com quatro ou vinte auto-estradas continuamos a ter o caminho para o tanque onde mergulhávamos na infância. Porque andamos todos à procura uns dos outros dentro e fora de quem somos e parece que nos desencontramos, que paramos na estação de serviço errada, a 10 km, sempre a olharmos para o relógio, a 10 km, na direcção uns dos outros, a 10 km mas na estação de serviço errada. Porque o limite do corpo é o desenho do mapa e às vezes apetece rasgar, omitir, estender a fronteira, mas para isso há a guerra, porque imediatamente fora desse limite à outros e outros países invadidos por nós. Porque no fundo desejamos apenas ser conquistados. Porque os países conquistados conseguem mexer no mapa e não ter culpa. Porque os países conquistados se reconstroem depois da guerra e antes do recomeço do amor.
Somos um mapa circular, humano e excessivo.
FILIPA LEAL
2008
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