terça-feira, 24 de março de 2015

POEMA "WE ARE WELCOME TO ELSINORE" DE MÁRIO DE CESARINY


"WE ARE WELCOME TO ELSINORE"


Entre nós e as palavras
Há metal fundente.

Entre nós e as palavras
há hélices que andam

E podem tirar-nos a morte

Violar-nos

Tirar do mais fundo de nós 
o mais útil segredo

Entre nós e as palavras
há perfis ardentes

Espaços cheios de gentes de costas

Altas flores ventosas, portas por abrir

E escadas e ponteiros e crianças
sentadas

À espera do seu tempo e do seu 
precipício  

Ao longo da morada em que habitamos

Há palavras de vida, há palavras de morte
Há palavras imensas que esperam por nós

E outras frágeis, que deixaram de esperar

Há palavras acesas como barcos

E há palavras homens, palavras que 
guardam 

o seu segredo e a sua posição.

Entre nós e as palavras, surdamente
As mãos e as paredes de Elsinore.

E há palavras nocturnas 
palavras gemidos

Palavras que nos sobem elegíveis
à boca

Palavras diamantes palavras nunca 
escritas

Palavras impossíveis de escrever

Por não termos connosco 
cordas de violinos

Nem todo o sangue do mundo

nem todo o amplexo do ar

E os braços dos amantes escrevem
muito alto

Muito além do azul onde oxidados
morrem

Palavras maternais só sombra só
soluço

só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
Entre nós e as palavras, o nosso dever
falar.

MÁRIO DE CESARINY
(1923-2006)



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