NUNO JÚDICE: CRÓNICA DE UM TESTEMUNHO (COM) SENTIDO
Conheci pessoalmente Nuno Júdice numa palestra que ocorreu no auditório do Museu da Chapelaria de São João da Madeira, no dia 8 de Junho de 2011, pelas 21H30, com o professor Paz Barroso e o vice-presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira, o doutor Rui Costa, intitulada "O Chapéu e a Poesia". Acompanhava a sua poesia desde 2004, muito por causa do "Poesia à Mesa" desse ano o ter homenageado e lembro-me do nervosismo que senti quando o doutor Rui Costa me apresentou a ele. Parecia estar na presença de um gigante e de um sábio no pensamento e no ofício da palavra escrita. Desde então só consegui falar com ele por e-mail. Nunca me desprezou e deu-me excelentes dicas que eu jamais esquecerei, principalmente, o rasgado elogio que ele me fez e que poderão encontrar no meu terceiro livro de Poesia "Metanoia".
Poderia citar todos os prémios, louvores e menções honrosas que recebeu em vida, bem como de todos as obras que escreveu. Preferi deixar, em forma de homenagem, um dos seus mais belos poemas no mural do meu Facebook, como forma de lhe dizer obrigado por tudo o que fez a mim e a tod@s leitor@s e poetas que leram os seus poemas e transformaram a sua escrita à custa do fulgor das suas palavras.
Deixou-nos ontem, domingo, dia 17 de Março de 2024, aos 74 anos e foi uma das últimas lendas desse século dourado para a Poesia Portuguesa que foi o século vinte, a par de nomes como Fernando Pessoa, Herberto Hélder, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade ou Al Berto.
Para sempre, Nuno Júdice (1949-2024)
PLANO
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos, que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.
Nuno Júdice.
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