domingo, 12 de fevereiro de 2017

Poema "ÁGAPE" de Tiago Moita (2017)


ÁGAPE

Desliga-te de tudo
menos deste instante
abdica-te dessa bruma ácida
que consome o que vales
e regressa ao princípio do Nada
numa respiração prânica 
até ao centro de ti

Concentra-te...

Observa-me até não observares mais nada 
neste horto de urzes
que não seja o lusco-fusco
desse fumo invisível e amendoado
que brotou das reticências
de cada um de nós

Relaxa...

Deixa-te invadir pela solidão avulsa
deste abraço sinestésico
que devolvemos ao coração do verbo
que dividiu a nossa unidade 
com uma maçã

Desperta...

Voa sem asas até ao princípio do Todo
e beija o átomo primordial
antes de sucumbir ao êxtase da lava 
condensa a eternidade num segundo
e a sublimação do fogo menstruado 
de um desejo serpentário 
num orgasmo de uma estrela
para que, depois de renderes a guarda
aos teus sentidos,
descubras que a tua metade maior 
é o reflexo de um céu que já existe 
dentro de ti.

TIAGO MOITA
"Metanoia" 
Colecção "Prazeres Poéticos"
Chiado Editora
2017

Prestes a ser distribuído em todas as livrarias de Portugal e do Brasil a partir de Março de 2017.

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