O PRIMEIRO POEMA
O primeiro poema que li de ti
não tinha palavras nem espaços
apenas silêncios oblíquos
em margens feridas
pelo branco grito
da água
O primeiro poema que li de ti
não tinha cor nem cheiro
nem fogo nas sílabas
apenas sal e sangue
no lugar das lágrimas
O primeiro poema que li de ti
não tinha braços nem pernas
nem mãos nem dedos
apenas fios de teia
e uma bússola ao peito
O primeiro poema que li de ti
não tinha ponteiros nem estradas
apenas mapas-múndi
de labirintos e legendas
Tinha apenas sol e lua num rosto
esperanto num sorriso
e asas abertas nos olhos
Tinha feridas essenciais
na ponta dos dedos
e corações sem relógios
na palma da mãos
Tinha universos inexpugnáveis
e lanternas acesas em florestas virgens
Tinha tudo num meio de nadas
vazio e absoluto no ventre
de uma chama
Não era simples nem abstrato
era claro como o grito de
de uma lágrima
Silhueta de uma alma
canto de pássaro engaiolado
Era sentido
era corpo
era um nome
eras tu.
TIAGO MOITA
"Metanoia"
Colecção "Prazeres Poéticos"
Chiado Editora
2017
Em todas as livrarias de Portugal e do Brasil a partir de Março.
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