AS PESSOAS CONFUSAS
As pessoas confusas
descontam adjectivos dos sulcos da fome
e fogem da sede branca
que toma de assalto as suas vidas
no intervalo dos poemas
As pessoas confusas
desligam-se demasiado cedo
engordam o cérebro com palhaços pobres
e coelhos a sair da cartola
nas horas em que não se fala de pássaros
Passam por mim sem norte
numa febre sonâmbula
como navios-fantasma
vertendo sal e éter das mãos
em velocidade cruzeiro
Sentem-se inchadas e ridículas
quando se fala em poesia
vestem de luto a alma
por uma lágrima muda da televisão
e não estendem uma mão para a apanhar
Julgam-se xamãs sem metafísica
nas mãos da cibernética
ciganas mudas ao silêncio do mundo
silhuetas calejadas de um tempo
em que uma palavra tinha mais peso
que uma fotografia a cores.
Tiago Moita
"Post Mortem e Outros Uivos"
WorldArtFriends/Corpos Editora
2012
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