domingo, 26 de julho de 2015

POEMA "ELEGIA DE UM ADEUS" DE TIAGO MOITA


"ELEGIA DE UM ADEUS"

Não posso adiar esta vida 
nem mais um minuto neste canto
onde cresci e morri vezes sem conta
coleccionando e queimando memórias
em incensários e taças tibetanas
quando não pensava em relógios

Nenhuma palavra de conforto
serve de âncora ao meu barco
fechar os olhos ao que sinto
é o mesmo que enganar um espelho
resistir é negar o abismo
que escavei no corpo
cego e surdo
ao outono dos calendários

Cada compasso de espera 
é um inverno de esperanças
numa madrugada sem sonhos
mesmo que o silêncio sufoque 
na garganta
o medo raspe o pouco que me resta
da alma
e o ódio estale no coração
como sal queimado
não posso adiar esta vida
neste lugar

Gastei a última gota de sangue
na casa que sustentou o meu presente
despeço-me da noite
com uma lágrima no bolso 
saudade numa mala de cartão 
coração separado por um oceano
e um futuro por trincar
numa escuridão 
que desconheço.

TIAGO MOITA
"Post Mortem e Outros Uivos"
WorldArtFriends Editora
2012

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