"Nada é tão absorvente como o prazer de ler um livro num café ou numa esplanada. Deixar-se levar pelo sabor das palavras ou pela essência do enredo; devorar cada capítulo como quem se deixa dominar pela gula ou por uma noite de prazer; desfiar o fio do novelo de um mistério de uma narrativa; deixar-se contagiar pela natureza das personagens; desfiar o tempo com o virar da página no intervalo de um café ou de uma refeição frugal. Assim se sentia Lepra, sentado num dos melhores cafés da Baixa Lisboeta, absorvido no seu Dostoiévski e saboreando o seu cappuccino. Todo o burburinho era-lhe indiferente. Fumar o seu cigarro dava-lhe serenidade, ao mesmo tempo que a multidão, crente e devota pelas estrelas do desporto-rei, se levantava em êxtase e comoção desmedidas pelo vislumbre de um golo na baliza adversária."
Tiago Moita
"O Último Império"
Chiado Editora
2012
(2.ª Edição, 2016)
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