"LOUVO A VOLÚVEL PUJANÇA"
Louvo a volúvel pujança
do teu corpo solar
a madrugada inteira
da nua felicidade
concentrada e aberta
na sua tensão de arco.
És um jorro de alegria
na tua alta indolência
viva balança que pulsa
entre as raízes e os astros
és o canto da nudez
e o nascente do meu dia.
És uma torre e uma estrela
uma luminosa amêndoa
um barco para o desejo
sobre as violetas ondas
és a flecha inicial
e a alta montanha clara.
Quando te despes tão branca
em férteis formas redondas
és vertical horizonte
e uma espiral perfumada.
Sob o teu lento pudor
a tua volúpia sólida
estala arde e explode
com uma fúria de estrela.
Ó fêmea da primavera
ó princesa fluvial
mágica estrela felina
em tuas colmeias de fogo
de musgo e sal vermelho
em teus diademas sedosos
em tuas gretas vegetais
em tua língua de lâmpada
em tuas ancas de pantera
eu flutuo eu me afundo
minha pátria verdadeira.
ANTÓNIO RAMOS ROSA
(1924-2013)
"Os Volúveis Diademas"
Assírio & Alvim
2002
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