"OS GESTOS DAS MÃES"
Os corpos talham-se com a cinza, arborizam o sono
e o sonho, ceifam pássaros e a frescura do destino.
Eis a água anterior à sede, os gestos das mães oliveirenses,
com os ventres a esquivarem-se entre os riachos e o mar.
Abre-se, a espuma e o silêncio, odor e chuva,
horizonte trémulo, gérmen e última nudez.
Sílabas segregadas, não. Verticalmente? Não! Não!
Escreve-se nome de mulher nesta cidade,
árvores por exemplo, a encurvar o tempo e as flores do sol.
Os pulsos negros de um cavalo,
a rasgarem as veias da terra, as mulheres a abrirem a pele
para encontrarem o poema, o caminho para o seus terraços,
o arbusto de argila, o nome na saliva de uma rapariga.
Eis a criança ruiva, a soletrar esta minha luz extinta.
LUÍS DE AGUIAR
"Luz Extinta"
Edição Jornal "Voz de Azeméis"
2004.
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